Faltando um dia para completar seis meses da morte de Gal Costa, outro ícone da música brasileira nos deixou. Rita Lee, a rainha do rock nacional, morreu aos 75 anos na noite de 8 de maio, vítima de câncer de pulmão.

A artista morreu em casa, na capital paulista, com a família. Rita deixa o companheiro Roberto de Carvalho e três filhos.

Fazer a relação da morte de Gal Costa com a de Rita Lee não leva em conta apenas a grandiosidade da carreira das duas cantoras que nos deixaram em um curto período de tempo. Gal era dois anos mais velha que Rita. Elas eram da mesma geração inquietante, contestadora, revolucionária, altamente criativa e talentosa que se lançou na música a partir do finalzinho dos anos 1960 e da década de 1970. E os ídolos daquela geração agora são avós e estão se tornando octogenários.

Levando em consideração a expectativa de vida dos brasileiros que nasceram em 2021 (77 anos), Gal e Rita viveram a média de vida dos cidadãos do Brasil. Mesmo assim, a sensação é de que foram embora muito cedo.

Para os fãs, Rita Lee não envelheça. Deve ser porque a obra dela é atemporal. O corpo da cantora foi velado nesta quarta-feira (10), no Planetário do Parque Ibirapuera, em São Paulo, local que ela tinha uma relação afetiva desde criança. Rita amava a astronomia e seus interesses eram muito variados, tanto que transitou por outras frentes, além da música. Foi escritora, atriz e apresentadora.

O mais incrível é que Rita Lee atravessou gerações e em uma mesma família é fácil encontrar avós e netos que gostam da cantora. Peça a um jovem que nunca foi a um show dela que nomine alguma música de Rita Lee e ele vai dizer, com certeza, "Ovelha Negra", "Lança Perfume", "Agora Só Falta Você".

Rita Lee deixa um legado musical riquíssimo e uma marca que poucos artistas brasileiros e estrangeiros têm ou tiveram: a transparência. Nas entrevistas e em sua autobiografia, a cantora não falou só de glórias, como muitas celebridades fazem. Ela nunca escondeu os perrengues, como os períodos de dependência química, os dias de internação para tratamento do vício, a prisão durante a ditadura e, nos últimos anos, a velhice sem drama, assumindo os cabelos brancos, as rugas e as limitações físicas que não permitiam mais performances ousadas nos palcos. Também enfrentou o câncer com dignidade e lucidez.

Rita mostrou que envelhecer ao lado do companheiro de uma vida, sendo respeitada e amada por fãs das mais variadas idades, classes sociais e ideologias é uma arte.

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