Prestes a alcançar três anos desde que a ONU (Organização das Nações Unidas) decretou a pandemia da Covid-19 (11 de março de 2020), cientistas ainda fazem novas descobertas sobre as consequências da infecção nas pessoas que contraíram formas mais severas da doença.

Um estudo publicado recentemente em uma revista científica mostrou que um ano depois da alta hospitalar, sobreviventes da forma grave da Covid-19, que precisaram de ventilação mecânica, têm o dobro de prevalência de sintomas de estresse pós-traumático, mais dificuldades para retornar ao trabalho e outras incapacidades do que aqueles que tiveram formas menos graves da doença.

A pesquisa foi realizada entre março de 2020 e março de 2022 em 84 hospitais ligados à Coalizão Covid-19, uma aliança para a condução de pesquisas que envolve várias instituições de ponta como Albert Einstein, Sírio-Libanês, Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa (em São Paulo) e Moinhos de Vento (em Porto Alegre).

Entre os 1.508 inscritos no estudo, 36 morreram antes de completar um ano de acompanhamento. O estudo mostrou que 1 em cada 4 pessoas intubadas precisou ser internada novamente ao longo dos 12 meses subsequentes (24% contra 19,6%). O índice de eventos cardiovasculares, como o infarto, também foi mais do que o dobro em relação àquelas que não precisaram de ventilação mecânica (5,6% contra 2,3%).

Os resultados desse estudo representam um norte para os gestores de saúde e também para os próprios pacientes que tiveram formas graves da Covid-19, pois mostram que eles devem ser acompanhados por mais tempo para assim prevenir o risco de eventos cardiovasculares e também para cuidar da saúde mental. Isso porque a pesquisa apontou que a prevalência do transtorno do estresse pós-traumático entre eles foi o dobro em relação ao grupo com menos gravidade (14% contra 7%).

O Brasil já registrou, desde o início da pandemia, mais de 36 milhões de casos de Covid-19 e mais de 695 mil mortes. Esses altos índices mostram que as pesquisas sobre as sequelas da doença devem ser realizadas ainda por muito tempo, mesmo com os sinais de arrefecimento da pandemia. Há questões sobre a aplicação de uma nova dose da vacina para 2023 para os grupos prioritários e debater a proteção aos mais vulneráveis à infecção pelo coronavírus.

Além disso, é sempre bom lembrar que mesmo que a vida de muitos tenha voltado a um patamar próximo à "normalidade", a pandemia ainda não acabou.

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