EDITORIAL: Sem tempo (e dinheiro) a perder
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quinta-feira, 30 de março de 2023
Folha de Londrina
Os 513 deputados eleitos para a 57ª legislatura da Câmara dos Deputados, que compreende o período entre 2023 a 2027, foram empossados no dia 1º de fevereiro em sessão no plenário que leva o nome de uma figura icônica da política brasileira, o notório Ulysses Guimarães.
Prestes a completar dois meses de trabalho, é possível dizer que a Câmara dos Deputados e o Senado ainda não mostraram o serviço que prometeram nos meses de campanha eleitoral, no ano passado. O leitor pode dizer que 60 dias é pouco.
Nesses dois meses o eleitor já conseguiu acompanhar e dá para cobrar a atuação dos seus representantes eleitos em outubro. Também dá para fiscalizar a postura deles com o dinheiro público, lembrando que os recursos que pagam o custo de uma Câmara Federal vêm do pagamento de imposto da sociedade.
Em janeiro, um levantamento realizado pelo Congresso em Foco mostrou que cada um dos 513 deputados da 57ª custará anualmente, em média, de R$ 2,5 milhões a R$ 2,7 milhões. Ao todo, algo em torno de R$ 1,5 bilhão por ano. Quase todos os benefícios passaram por reajuste no início do ano.
O custo anual milionário de um parlamentar compreende a soma dos salários de deputado, dos servidores de seu gabinete, da cota parlamentar a que ele tem direito para cobrir despesas atribuídas ao exercício do mandato e o auxílio-moradia para aqueles que não ocupam imóvel funcional.
Mas não estão incluídos nesse valor, segundo o Congresso em Foco, benefícios como plano de saúde, diárias de viagem e um salário extra pago no primeiro e outro no último mês de legislatura como ajuda de custo. Também não estão somadas as despesas com servidores das lideranças, das comissões e outros órgãos da Casa, que também assessoram os parlamentares. Não é novidade que o custo de um parlamentar brasileiro é um dos mais caros do mundo.
Chamar a atenção do leitor para esse "investimento" tem um propósito. Na terça-feira (28), durante sessão na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, políticos da situação e oposição protagonizaram um triste espetáculo de desrespeito ao seu eleitor.
A sessão, que teve a presença do ministro da Justiça Flávio Dino poderia ser confundida com uma turma de 5ª série se confrontando no "fundão" da sala. Dino foi convidado para participar da reunião da comissão após um vídeo dele entrando na Maré, comunidade do Rio de Janeiro, viralizar nas redes sociais. Políticos de oposição questionaram a falta de um forte esquema de segurança acompanhando o ex-governador do Maranhão à comunidade, tentando relacionar a visita a um suposto acordo com traficantes.
A audiência, que demorou cerca de quatro horas, foi marcada por brigas entre parlamentares de oposição e situação, gritos, palavrões e ironias carregadas de declarações homofóbicas e misóginas. Quanto custa para o bolso do contribuinte uma tarde de trabalho de um parlamentar e de um ministro?
Enquanto protagoniza cenas constrangedoras, o parlamento deixa de investir seu tempo (e o dinheiro do cidadão) em pautas prioritárias para o país andar, como a Reforma Tributária e o novo arcabouço fiscal. Mais do que nunca, é importante que os eleitores acompanhem, fiscalizem e cobrem trabalho sério e postura exemplar de seus parlamentares eleitos.
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