Se fosse uma pessoa, a Câmara dos Deputados brasileira seria um homem de meia idade. O perfil foi construído a partir de ranking de equidade parlamentar em Câmaras de Deputados ou Assembleias únicas na América do Sul, segundo dados da IPU (União Interparlamentar, na sigla em inglês), organização internacional que agrupa informações dos Congressos de diferentes nações.

Levando em consideração a idade dos deputados federais titulares atualmente, o Brasil é o segundo território sul-americano com maior média etária na Casa: 51 anos. A liderança é da Argentina, com média de 52 anos. Atualmente, a Casa tem apenas 4% da sua formação composta por jovens de até 30 anos.

O outro dado é sobre a representatividade feminina. A pesquisa mostrou que o Brasil tem a Câmara dos Deputados com a maior desigualdade de gênero no continente.

Atualmente, apenas 17,5% das vagas nessa Casa legislativa brasileira são ocupadas por mulheres, menos da metade da proporção registrada na Bolívia, no Equador e na Argentina.

Com 46%, 43% e 42%, respectivamente, esses três países lideram o ranking de equidade parlamentar conforme as informações da IPU.

Em comum, esses três países adotam medidas estruturais de incentivo à equidade entre homens e mulheres na política.

Enquanto a Constituição boliviana garante a participação igualitária entre mulheres e homens na eleição da Casa legislativa, além de presença equitativa no controle do poder político no país, o Equador e a Argentina possuem um sistema de votação por listas, no qual os nomes dos candidatos são intercalados, entre ambos os gêneros, respeitando os princípios da alternabilidade e sequencialidade.

Segundo Graziella Testa, professora na FGV (Fundação Getulio Vargas) e doutora pela USP (Universidade de São Paulo), evidências na ciência política indicam que, para identificar os impactos positivos da participação feminina em grupos, é preciso que a comunidade em questão seja formada por, ao menos, um terço de mulheres e que exista uma cultura mínima de igualdade. Infelizmente, a porcentagem de mulheres na Câmara dos Deputados no Brasil nunca atingiu um quinto da Casa (20%).

Graziella Testa dá exemplos da importância de colocar mais mulheres na política. Segundo a especialista, com base em experiências da política externa, quando as mulheres ocupam posições de tomada de decisão, há uma melhora em indicadores sociais, principalmente aqueles ligados à saúde e à educação.

Ela diz que há evidências, em outros países, da redução da corrupção, quando se inserem pessoas diferentes na política, "pois acontece a quebra de um sistema de redes muito estabelecidas e, frequentemente, essas redes são a principal base para sistemas de corrupção".

Nos últimos anos, o Brasil tem se destacado por uma série de avanços e conquistas administração pública. No entanto, o país continua lamentavelmente atrasado quando se trata da baixa representatividade feminina na política, condição traz sérias implicações para a democracia como um todo. Esse ciclo de sub-representação ao qual o Brasil está preso é inaceitável no século XXI.

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