O caso do apresentador Faustão, de 73 anos, que passou por um transplante de coração no último domingo (27), colocou em evidência a expertise do Brasil em uma área da medicina de extrema importância e mais uma vez elegeu o SUS (Sistema Único de Saúde) como protagonista no país que tem a maior organização pública de transplante de órgãos do mundo.

Nesta quinta-feira (31), a ABTO (Associação Brasileira de Doação de Órgãos) divulgou que o Brasil bateu o recorde de doações de órgãos no primeiro semestre de 2023. Entre janeiro e junho, o país registrou uma média de 19,2 doadores por milhão de habitantes. Mas tem uma notícia negativa: a quantidade de recusa das famílias aumentou em relação aos últimos anos.

Isso significa um aumento em comparação ao período da pandemia de Covid, quando a taxa de transplantes recuou. De 2020 a 2022, ela variou de 15,8 a 16,4 doadores por milhão de habitantes na comparação do mesmo período do ano. Agora, a expectativa da associação é que esse valor chegue a 20 até o fim de 2023.

"Estamos voltando a ter os mesmos índices de 2019, não é 100%, mas estamos trabalhando para alcançar essas posições. O mais importante é ter órgãos para transplantar", disse Valter Duro Garcia, médico e membro da ABTO.

Também houve aumento da doação de alguns órgãos específicos. No caso do coração, por exemplo, a taxa passou de 1,7 transplante por milhão de habitantes em 2022 para 2,0 neste ano, enquanto o de fígado foi de 10 para 10,9 no mesmo período. Já o pulmão teve recuo, de 0,5 para 0,3.

Apesar do recorde, a proporção de famílias que recusam a doação de órgãos segue no mesmo patamar do ano passado, mais alto do que o registrado no período anterior à crise sanitária. Pela legislação brasileira, a doação só acontece se o paciente tiver o diagnóstico de morte cerebral e a família autorizar o procedimento.

Em todo o país, foram 6.793 casos possíveis de doação durante o primeiro semestre, mas só 3.472 foram de fato realizados. Em 1.684 oportunidades, a doação não ocorreu porque a família não autorizou o procedimento. Outros motivos para que a doação não acontecesse incluem contraindicação médica (17% dos casos), parada cardíaca (7%) e morte encefálica não confirmada (7%), entre outros.

A recusa das famílias preocupa e segue em uma direção que não condiz com o cenário que evidencia equipes multidisciplinares cada vez mais qualificados e experientes em transplantes. Por isso é preciso mais políticas públicas que promovam a conscientização e a compreensão da população para a importância da doação, contribuindo para uma sociedade mais solidária e empática.

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