EDITORIAL: Por um Nobel mais `inclusivo´
Por que o Brasil nunca ganhou um Nobel? É a pergunta que ronda o país nesta semana em que a Fundação Alfred Nobel anuncia os vencedores
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 05 de outubro de 2023
Por que o Brasil nunca ganhou um Nobel? É a pergunta que ronda o país nesta semana em que a Fundação Alfred Nobel anuncia os vencedores
Adriana de Cunto
Por que o Brasil nunca ganhou um Nobel? É a pergunta que ronda o país nesta semana em que a Fundação Alfred Nobel anuncia os vencedores do prêmio mais cobiçado de áreas científicas, literatura e paz.
Apesar de não listar entre os países que receberam o Nobel, o Brasil teve 147 indicações, no período entre 1901 a 1971, quando estão disponíveis os dados mais recentes. A fundação que administra a fortuna do inventor da dinamite deixa a lista de indicados sob sigilo de 50 anos.
Entre os brasileiros indicados figuram nomes muito conhecidos, como o físico César Lattes, Carlos Chagas e Adolfo Lutz, pela sua contribuição com a saúde pública global, e Fritz Feigl, austríaco radicado no Brasil que trouxe contribuições importantes ao conhecimento de química, sendo o único indicado nesta categoria no país.
Na Literatura, quem nunca questionou o porquê de Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade (outros dois indicados) não terem levado um Nobel? Para a categoria Paz, foram inúmeras indicações, principalmente na diplomacia brasileira, como de Oswaldo Aranha, Afrânio de Mello Franco e Barão de Rio Branco.
Considerando unicamente o critério de local de nascimento, podemos dizer que um brasileiro foi laureado. Peter Medawar, ganhador do Nobel de medicina em 1960 pela descoberta da tolerância imunológica, nasceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, porém teve sua formação superior e atuação no Reino Unido e abriu mão da cidadania brasileira para, segundo um primo que continuou no Brasil, fugir do serviço militar obrigatório.
A questão sobre a ausência de brasileiros entre os laureados com um Nobel desde que o prêmio foi criado em 1901 requer uma reflexão mais ampla. Para especialistas, a resposta esbarra em diferentes aspectos, sendo os principais o baixo investimento em pesquisa, a qualidade da educação básica no país, e, principalmente, o contexto geopolítico.
Em entrevista à Folhapress, o presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Renato Janine Ribeiro, frisou que a qualidade da ciência, literatura e papel político-social do Brasil não são menores do que a de outros países que já têm láureas.
Mas há uma "nuance" que precisa ser levada em conta, que é justamente o aspecto político e geográfico nas premiações. Basta verificar que no decorrer da história, entre os vencedores, o destaque vai para americanos e britânicos.
Também outra crítica precisa ser feita: a falta de diversidade de gênero entre os vencedores. Nesse aspecto, os "dois lados" do prêmio têm que fazer a sua parte. A Fundação Nobel deve buscar formas de ser mais inclusiva e países como o Brasil devem incentivar meninas, desde a educação básica, a gostarem de áreas como matemática, física e química e darem condições para que mais mulheres sigam carreira profissional na pesquisa científica.
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