Três anos depois, Londrina volta a enfrentar uma epidemia de dengue. O atual cenário já deixa a cidade tecnicamente nesta situação, em que o problema se espalha acima do esperado e sem uma delimitação geográfica. Os critérios técnicos que colocam o município na condição de epidemia por dengue seriam 1.500 casos confirmados, " o que seguramente já passamos”, disse em entrevista à FOLHA o secretário de Saúde, Felippe Machado.

O último informe do município sobre positivações, divulgado na semana passada, apontou para 1.166 pessoas diagnosticadas com a doença. No sábado (1º), a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do jardim Sabará, na zona oeste, registrou um novo recorde de atendimentos num único dia desde a inauguração, em 2014: 928 pessoas. Somando o sábado com o domingo foram 1.725 pacientes que passaram por consulta médica.

Desde quarta-feira (29) a UPA do Jardim Sabará vem atendendo exclusivamente casos confirmados ou suspeitos de dengue. A Secretaria de Saúde reforçou a equipe médica e de enfermagem, providenciou retaguarda de insumos e alterou processos de trabalho, já prevendo a tendência de que os números se mantenham altos nos próximos dias.

Mapa da secretaria mostra que o conjunto Chefe Newton, na zona norte, e o jardim Macaranã, na oeste, estão com incidência elevada de notificações da dengue. Bairros com incidência crescente são os jardins Padovani e Cabo Frio e os conjuntos Vivi Xavier e Aquiles Stenghel, todos na região norte, além do Guanabara, na sul.

O Aedes aegypti, vetor da dengue, chegou a desaparecer das áreas urbanas brasileiras no século 20, na década de 1950. A erradicação aconteceu por uma ação da saúde pública contra a febre amarela, outra doença transmitida pelo mosquito. Mas desde a reintrodução do Aedes aegypti no Brasil, na década de 1980, o país se vê em um problema cíclico de epidemias por dengue extremamente complexo de resolver. Tornamo-nos reféns dessa doença e vemos os casos se multiplicarem principalmente nos meses mais chuvosos, que varia dependendo da região do país.

Sabemos que o combate à dengue envolve medidas intersetoriais. É complexo e todo o esforço deve ser feito pelo poder público e pela sociedade. Quem tem mais de 30 anos lembra-se de ter ouvido à exaustão frases como "todos devem fazer a sua parte", "não deixe acumular água parada no quintal", "cuide do vaso de planta".

Se há muito tempo sabemos o que fazer, por que ainda não vencemos o Aedes aegypti? A resposta está na complexidade do problema. Acima, falamos do que o cidadão comum deve fazer. Mas o poder público em suas várias instâncias precisa manter fortalecido os sistemas de vigilância para a dengue, realizar ações preventivas o ano todo, promover campanhas de comunicação realmente eficientes no sentido de conscientizar a população, investir em infraestrutura, saneamento básico e coleta de lixo. Além disso, apostar em novas tecnologias e pesquisas em medicamentos, vacinas. Hoje já se fala em aplicativos para identificar locais com alto índice de transmissão e mosquitos geneticamente modificados que ajudariam a fazer o controle das fêmeas.

Quando as soluções tradicionais não dão resultado, é preciso pensar em novas respostas.

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