É Natal e, quando se trata de família, vem de longa data a regra de não tocar em assuntos que podem acabar com a festa. Se ontem a ideia era não falar em dívidas, heranças e dinheiro, de uns anos para cá a recomendação é não tocar em urnas ou eleições. Pesquisa de agosto de 2022 da InternetLab com a Rede Conhecimento Social mostrava que, na época, 58% das famílias já evitavam tocar em politíca nos grupos de WhatsApp e Telegram.

Pode parecer exagero mas, hoje, grande parte das brigas se dá por causa de política ou, mais propriamente, por divergências ideológicas. Do grupo de WhatsApp para a mesa, a distância é bem curta e, se não tomarmos cuidado, vamos acabar repetindo a ladainha que já dominou nossas conversas o ano inteiro. Então, sóbrios ou depois da cerveja, a regra é evitar o assunto que já deu o que falar, na maioria das vezes sem que ninguém tenha razão absoluta.

Vamos colocar a paz e a harmonia à frente de nosso candidato favorito. Lembrar que o núcleo familiar pode ser o palco principal de confrontos, já que as eleições mais polarizadas da história aconteceram há apenas dois meses e tem muita gente de cabeça quente ainda.

Por divergências, a tensão familiar aumentou muito, mas não faz sentido prejudicar vínculos duradouros por causa de política, um território que tem amplo espaço na sociedade, mas que não anda cabendo na mesa onde a gente se senta com os cunhados. Em tempos de rede social, quando desmanchamos amizades com um clique, é preciso preservar o valor das relações com pais, tios, primos e sobrinhos. A rede social é uma bolha isolada, muito diferente dos laços familiares.

Não custa lembrar que, nas datas festivas, o seu cunhado petista é o mesmo que te recebe com uma cervejinha gelada; ou que a tia do zap, que vive reproduzindo fake news, é a mesma pessoa que viajou 500 km para participar da sua festa de formatura. Antes de qualquer tendência política, é preciso trabalhar o respeito.

Se for impossível não falar de política em família, melhor ouvir o conselho dos especialistas: é preciso haver um pacto com o vínculo familiar e ter maturidade para administrar um possível conflito. Sem isso, podemos arrebentar os laços mais importantes de nossas vidas.

Se não conseguir manter distância do assunto, meça as palavras, não se agarre à sua opinião como a última "verdade do pacote" e, sobretudo, aprenda a ouvir antes de querer ganhar no grito uma discussão que pode ficar fora da mesa em época de congraçamento. O espírito natalino é de amor, sem isso deixamos de fora a lição mais importante do cristianismo: "Amai-vos uns aos outros", uma sabedoria que vale em dobro quando se trata de amigos ou parentes.

A FOLHA deseja um Feliz Natal aos seus leitores!