O Brasil possui uma extensa fronteira terrestre com trechos de grande dificuldade de fiscalização, fator que facilita a organizações criminosas contrabandearem para o país um número grande de produtos como eletrônicos, medicamentos, cigarros, armas de fogo e drogas ilícitas. Muitos desses artigos que entram ilegalmente no Brasil vão parar em lojas de vários portes, de pequenas a grandes, alimentando uma rede criminosa que lucra bilhões de reais e prejudica, ao praticar a concorrência desleal, a indústria e o comércio locais.

O contrabando também provoca uma perda significativa de arrecadação do Estado. E quando isso acontece, quem sai perdendo é a sociedade, pois o dinheiro que deveria ser investido em saúde, educação, infraestrutura e segurança acaba no bolso da bandidagem.

Nesta terça-feira (9), a Operação "Modo Avião", da Receita Federal e Polícia Federal, desmantelou uma organização instalada em Londrina, voltada à prática do crime de lavagem de dinheiro e importação irregular de produtos eletrônicos.

Treze lojas do Camelódromo de Londrina, especializadas em aparelhos celulares, foram alvo da Receita e da PF. Mas a operação não aconteceu apenas em Londrina. Ao todo foram cumpridos 56 mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva no Paraná, São Paulo e Ceará.

Uma pessoa, investigada como um dos coordenadores do esquema, foi presa em uma residência de luxo na região da Gleba Palhano, zona sul de Londrina. Outro suspeito de ser líder da quadrilha estava foragido até o fechamento desta edição.

O delegado de PF, Vinícius Faria Zangirolani, responsável pela operação, explicou que os dois mandados de prisão foram contra os suspeitos de coordenar todo o esquema, desde o fornecimento dos celulares que eram importados ilegalmente do Paraguai, até a lavagem de dinheiro, cooptando contadores que abriam empresas de fachadas na cidade de São Paulo.

Segundo o delegado, essas empresas eram utilizadas para movimentar os valores dos crimes de importação ilegal e de lavagem. A movimentação de todos os envolvidos foi de R$ 1,8 bilhão, entre 2019 e 2021.

As novas gerações não devem ter ouvido falar da Lei de Gérson, que circulou no imaginário do brasileiro após uma marca de cigarros do século passado colocar o ex-jogador de futebol Gérson de Oliveira Nunes, da seleção tricampeã de 1970, dizendo que gostava de levar vantagem em tudo e completava: "leve vantagem você também".

Embora o "Canhotinha de Ouro" tenha negado em inúmeras entrevistas que a afirmação exaltava a "malandragem brasileira", o anúncio fez da "Lei de Gérson" uma apologia ao "jeitinho" que convive lado a lado com a falta de integridade e desonestidade.

É esse desejo de levar vantagem que leva muita gente a comprar produtos contrabandeados, como se tratasse de um "crime menor". Mas essa infração põe em risco a saúde da população à medida em que vende mercadorias que não foram devidamente inspecionadas e deixa de contribuir com a arrecadação do Estado.

Segundo o delegado Cezar Cardoso, da Receita Federal, o valor desviado por essa quadrilha desarticulada nesta terça-feira seria suficiente para construir vinte escolas públicas. O comércio ilegal pode até parecer vantajoso, mas custa caro para o país.

Obrigado por acompanhar a FOLHA!