Todos os anos, as instituições de ensino superior do Brasil formam uma parcela significativa de médicos. No Paraná, são nove cursos com 590 vagas na ensino público. A rede privada do Estado tem 12 graduações em medicina com 1.656 vagas. Apesar disso, não dá para deixar de perguntar onde estão atuando esses profissionais que resistem a chegar ao interior do país?

Especialistas há décadas vêm observando que o problema não está no número de médicos atuando no Brasil. Há questão é se eles estão exercendo a medicina onde o povo mais precisa deles.

O assunto voltou à tona com mais força há poucas semanas quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva relançou o controverso programa Mais Médicos, que promete levar os profissionais para pequenas cidades do interior e para áreas isoladas no País para atendimento primário nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Reportagem publicada nesta edição (1 e 2) da FOLHA analisa a distribuição desses profissionais no Estado. A constatação é que a presença médica é três vezes maior em Curitiba do que no Interior do Paraná, o que segue a tendência nacional confirmada pelo último estudo “Dados da Demografia Médica no Brasil”, da AMB (Associação Médica Brasileira) em parceria com a USP (Universidade de São Paulo).

De acordo com a pesquisa, o interior do Paraná concentra 54% dos 32.525 médicos registrados no Estado, no entanto, o índice por mil habitantes é de 2,24, abaixo da média nacional, que subiu para 2,60 em relação ao último censo médico realizado no Brasil em 2010, quando o índice nacional era de 1,63.

Na capital, ainda conforme o levantamento, 13.898 médicos atuam em Curitiba para atendimento de uma população de 1.963.726 habitantes, o que representa um índice de 7,08. Já o Paraná apresenta o indicador mais baixo entre os estados do Sul com 2,80 médicos por mil habitantes.

A Demografia Médica deste ano aponta que até 2035, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Santa Catarina, Espírito Santo e Paraná terão mais médicos por 1.000 habitantes do que a taxa nacional. Juntos, vão concentrar mais de 70% do total de médicos no País, sendo que apenas São Paulo deve contar com 22% dos profissionais. A projeção aponta para 5,4% dos médicos formados no Brasil atuando no Paraná.

Em entrevista à FOLHA, o conselheiro e gestor do Departamento de Fiscalização do CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná), Carlos Roberto Naufel Junior, afirmou que o grande problema do deslocamento dos profissionais para o interior é que “a medicina não é feito só com médicos”, mas necessita de estrutura adequada para o atendimento, não só material, mas também de recursos humanos.

Os problemas de natureza estrutural, leia-se condições de trabalho mais precárias nas cidades menores e mais afastadas dos polos regionais, não são novidade e eles precisam ser analisados e enfrentados a partir de um olhar sobre as políticas públicas.

Por mais que os jovens médicos que chegam ao mercado tenham conscientização individual sobre a importância de ocupar os espaços vagos no interior do país, isso só vai acontecer quando a balança que envolve boas condições de trabalho, salário atraente, oportunidade de crescimento profissional e qualidade de vida estiver bem equilibrada.

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