EDITORIAL: Mais médicos no interior
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sábado, 01 de abril de 2023
Folha de Londrina
Todos os anos, as instituições de ensino superior do Brasil formam uma parcela significativa de médicos. No Paraná, são nove cursos com 590 vagas na ensino público. A rede privada do Estado tem 12 graduações em medicina com 1.656 vagas. Apesar disso, não dá para deixar de perguntar onde estão atuando esses profissionais que resistem a chegar ao interior do país?
Especialistas há décadas vêm observando que o problema não está no número de médicos atuando no Brasil. Há questão é se eles estão exercendo a medicina onde o povo mais precisa deles.
O assunto voltou à tona com mais força há poucas semanas quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva relançou o controverso programa Mais Médicos, que promete levar os profissionais para pequenas cidades do interior e para áreas isoladas no País para atendimento primário nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde).
Reportagem publicada nesta edição (1 e 2) da FOLHA analisa a distribuição desses profissionais no Estado. A constatação é que a presença médica é três vezes maior em Curitiba do que no Interior do Paraná, o que segue a tendência nacional confirmada pelo último estudo “Dados da Demografia Médica no Brasil”, da AMB (Associação Médica Brasileira) em parceria com a USP (Universidade de São Paulo).
De acordo com a pesquisa, o interior do Paraná concentra 54% dos 32.525 médicos registrados no Estado, no entanto, o índice por mil habitantes é de 2,24, abaixo da média nacional, que subiu para 2,60 em relação ao último censo médico realizado no Brasil em 2010, quando o índice nacional era de 1,63.
Na capital, ainda conforme o levantamento, 13.898 médicos atuam em Curitiba para atendimento de uma população de 1.963.726 habitantes, o que representa um índice de 7,08. Já o Paraná apresenta o indicador mais baixo entre os estados do Sul com 2,80 médicos por mil habitantes.
A Demografia Médica deste ano aponta que até 2035, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Santa Catarina, Espírito Santo e Paraná terão mais médicos por 1.000 habitantes do que a taxa nacional. Juntos, vão concentrar mais de 70% do total de médicos no País, sendo que apenas São Paulo deve contar com 22% dos profissionais. A projeção aponta para 5,4% dos médicos formados no Brasil atuando no Paraná.
Em entrevista à FOLHA, o conselheiro e gestor do Departamento de Fiscalização do CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná), Carlos Roberto Naufel Junior, afirmou que o grande problema do deslocamento dos profissionais para o interior é que “a medicina não é feito só com médicos”, mas necessita de estrutura adequada para o atendimento, não só material, mas também de recursos humanos.
Os problemas de natureza estrutural, leia-se condições de trabalho mais precárias nas cidades menores e mais afastadas dos polos regionais, não são novidade e eles precisam ser analisados e enfrentados a partir de um olhar sobre as políticas públicas.
Por mais que os jovens médicos que chegam ao mercado tenham conscientização individual sobre a importância de ocupar os espaços vagos no interior do país, isso só vai acontecer quando a balança que envolve boas condições de trabalho, salário atraente, oportunidade de crescimento profissional e qualidade de vida estiver bem equilibrada.
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