Dados do Sistema de Proteção ao Crédito da ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina) acenderam a luz amarela para a planilha orçamentária de 2024 de muitas famílias. O estudo revelou que o número de consumidores que conseguiram pagar ou renegociar suas dívidas no mês de dezembro de 2023 foi menor do que no mesmo mês em 2022, enquanto a quantidade de novos inadimplentes foi maior.

Como consequência do resultado do último ano, a base de clientes com acesso a crédito também diminuiu. Os dados de dezembro mostram que a quantidade de consumidores que não conseguiram quitar seus débitos junto ao comércio de Londrina foi 14,5% maior na comparação com o mesmo período anterior, já a porcentagem dos consumidores que estavam negativados e conseguiram pagar ou renegociar suas dívidas apresentou redução de 36%.

“Quando os números são analisados considerando os 12 meses do ano, a quantidade de consumidores que tiveram seu nome incluído no sistema de proteção ao crédito foi 5,7% maior que em 2022, no entanto a quantidade de consumidores negativados que conseguiram limpar o nome foi maior em 1% na mesma comparação”, apontou Marcos Rambalducci, consultor econômico da ACIL e colunista da Folha de Londrina.

Para o especialista, os números demonstram que a alta na quantidade de londrinenses inadimplentes entre o final de 2022 e 2023 é o reflexo da situação ainda bastante deteriorada do contexto financeiro das famílias. “Somente uma vigorosa reação no crescimento econômico será capaz de reverter este panorama para 2024”, complementa.

Em 2023, a taxa anual de endividamento caiu pela primeira vez em quatro anos. A queda, no entanto, foi de apenas 0,1 ponto percentual em relação a 2022, o equivalente a aproximadamente 108 mil pessoas. A conta fechou em 77,8% da população, longe dos 58,3% de 2012, o menor da série histórica, iniciada em 2010.

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o endividamento no cartão de crédito também caiu na mesma proporção e chegou a 86,5% dos endividados – porcentagem que, em 2010, era de 70,9%. Já o uso de cheque especial ficou em 4,4% e é o menor desde o começo da pesquisa, quando era usado por 8,3% dos endividados. A média de comprometimento da renda com pagamento de dívidas em 2023 ficou em 30%, uma queda de 0,2 ponto percentual em relação ao ano passado.

O economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, lembra que há uma diferença entre os conceitos de inadimplência e de endividamento. “Endividamento é algo fundamental para o desenvolvimento econômico, pois o crédito é o trampolim do sistema capitalista (...) A inadimplência é um resultado adverso do endividamento, causado pela renda baixa do brasileiro e pela volatilidade da economia do País".

Um ponto a ser destacado pelos estudos é que quanto maior a escolaridade, menor a inadimplência. De acordo com a Peic, em 2023, 33% dos consumidores que atrasaram dívidas não haviam concluído o ensino médio. Essa taxa diminui para 27,6% quando se trata de pessoas com ensino médio completo. O volume de inadimplentes com atrasos acima de 90 dias também é maior entre quem tem menos instrução. No comparativo anual, 49,8% dos inadimplentes com menor escolaridade atrasaram os pagamentos por mais de três meses em 2023.

Ou seja, educação é fator relevante também na hora de determinar a capacidade de pagamento das dívidas. Isso porque escolaridade e informação oferecem ao cidadão ferramentas para tomar decisões mais analisadas, além de desenvolver habilidades necessárias para enfrentar desafios econômicos, como encontrar empregos melhores, identificar oportunidades, empreender e gerenciar finanças de maneira mais eficaz.