Quando uma comunidade vivencia uma tragédia como o ataque ao Colégio Estadual Helena Kolody, em Cambé, parece impossível falar em volta à "vida normal", principalmente porque não se completou uma semana do crime que matou Karoline Verri Alves, 17 anos, e Luan Augusto, 16. Nesse momento, toda ajuda é bem-vinda e é extremamente importante a iniciativa do Ministério da Educação em ter enviado nos dias seguintes do atentado uma especialista em saúde mental para oferecer apoio e assessoria às autoridades locais.

A doutora em psicologia Sarah Vieira Carneiro permaneceu alguns dias no município da Região Metropolitana de Londrina que foi palco da tragédia. Ela integra o Grupo de Trabalho de Proteção e Segurança nas Escolas, do MEC.

Há 20 anos atuando em questões relacionadas a perdas, luto e separações, Carneiro veio representando o governo federal e nos dias em que esteve na região reuniu-se com membros dos governos estaduais e da prefeitura de Cambé com a finalidade de oferecer apoio e assessoria, apresentar sugestões de protocolo para o retorno das atividades na escola que sofreu o ataque e discutir a prevenção e o combate a esse tipo de crime. Nos próximos dias, Carneiro deve retornar a Cambé para continuar o que se espera ser um trabalho longo de reconstrução.

Monitoramento por câmeras de segurança nas áreas externas, manter uma articulação frequente com as polícias e guardas municipais, acionando a área de inteligência das forças de segurança, criar protocolos de entrada e de saída nas escolas e diminuir o fluxo e fazer a abordagem a pessoas estranhas que estejam circulando próximo às instituições de ensino seriam medidas mais eficazes, apontou Carneiro.

Mas essas ferramentas de prevenção devem estar acompanhadas de outras estratégias, de médio e longo prazo, que passam por discussões sobre temas sensíveis que competem a toda a sociedade, como das as outras formas de discriminação a minorias, além dos meios de se promover um maior controle sobre os conteúdos que circulam na internet, especialmente na deep web e dark web.

O Brasil registrou o primeiro ataque a escola em 2002 e, em 21 anos, já somam 25 as ocorrências desse tipo. Karoline Verri Alves e Luan Augusto entraram para uma estatística ao mesmo tempo triste e assustadora que contabiliza 139 vítimas. Desse total, 46 morreram e 93 ficaram feridas. O mapeamento foi feito pelo Instituto Sou da Paz.

O autor dos disparos em Cambé foi contido não por um funcionário da escola que havia recebido treinamento de segurança, como foi divulgado equivocadamente no dia do crime. Mas por um corajoso serralheiro que trabalhava em frente ao colégio.

Dois suspeitos de envolvimento ao ataque foram detidos pela Polícia Civil, que não passa mais informações à imprensa com a justificativa de que isso pode atrapalhar as investigações.

Se não tivesse morrido na carceragem da Casa de Custódia de Londrina menos de 48 horas após o ataque, o autor dos disparos que mataram Karoline e Luan poderia passar por uma análise psicológica rigorosa que, junto com o trabalho investigativo da polícia, ajudaria especialistas a entenderem melhor o que leva essas pessoas a matarem inocentes desconhecidos e por que as escolas estão virando um alvo frequente desses ataques.

No mundo inteiro, pouco se sabe sobre o perfil desses criminosos e a verdade é muito mais complexa do que a informação de que os assassinos supostamente sofreram bullying nos bancos escolares. Pode haver coincidências no perfil dos assassinos, mas é possível falar em um padrão?

Diante de tantas questões não respondidas, a única certeza é que toda ajuda e informação são bem-vindas para que a comunidade retome suas vidas.

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