A grandeza dos números traduzem a gravidade da tragédia que atingiu o Litoral Norte de São Paulo na madrugada de domingo (19). As chuvas que atingiram a região registraram em 24 horas 600 mm, o dobro do volume esperado para todo o mês de fevereiro para a região. Até a tarde de segunda-feira (20) haviam sido registradas 36 mortes, sendo 35 em São Sebastião e uma em Ubatuba. Quarenta pessoas estão desaparecidas, 1.739 desalojados e quase 800 desabrigados.

A região recebe muitos turistas no feriadão de Carnaval, que mesmo com a previsão de chuva, decidiram fugir do agito dos blocos e escolas de samba. Mas ao invés de tranquilidade, encontraram um cenário de medo e terror. Os relatos de moradores e turistas aos veículos de imprensa são angustiantes.

Quem tentava fugir da chuva que provocou inundação e desabamento de encostas encontrou as estradas bloqueadas por pedras, árvores arrancadas e entulhos. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas decretou estado de calamidade pública em Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva suspendeu a viagem de descanso à Bahia e foi a São Sebastião, junto com alguns ministros, para se reunir com Freitas e outras autoridades e oferecer ajuda do governo federal às vítimas da tragédia. Na visita, o chefe do executivo nacional pediu que não sejam mais construídas casas em encostas, como forma de evitar tragédias como essa.

"De vez em quando a natureza nos prega uma surpresa, mas também muitas vezes a gente desafia a natureza [...]. Por isso queria que você [se dirigindo ao prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, do PSDB] pensasse num lugar seguro para que a gente pudesse começar a reconstruir as moradias do povo de São Sebastião", disse Lula.

Infelizmente, estamos diante de mais uma tragédia anunciada, como tantas outras que atingiram o Brasil nos primeiros meses do ano, quando se espera um volume maior de chuva. Dessa vez, o temporal veio com o que os cientistas e meteorologistas estão classificando como um "evento climático extremo". Afinal, foram mais de 600 mm de volume de chuva em poucas horas.

Acrescente-se a esse evento climático extremo moradias improvisadas em encostas de morros e falta de preparo e orientação da população e de autoridades quando se veem em uma situação como essa: não há treinamento, rotas de fuga, muita gente não sabe para onde ir e a quem recorrer.

Há tragédias causadas por fatores imprevisíveis. E há tragédias que poderiam ser evitadas ou pelo menos com o impacto reduzido. No Brasil, os problemas relacionados às chuvas quase sempre estão na segunda hipótese, das tragédias evitáveis.

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