EDITORIAL
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 09 de maio de 2001
Se soubermos usar não vai faltar, diz o sábio ensinamento. Agora temos que saber usar a energia elétrica, porque ela irá escassear. No próximo mês, o racionamento - por ordem do governo federal - será de 15% para as grandes empresas e de 20% a 22% para as pequenas e médias e para as residências. O Paraná será poupado até agosto, mas também entrará no esquema, porque, embora produza energia elétrica acima do que consome, vende essa energia para outros Estados, e aqui, portanto, também haverá cortes. O racionamento se dará em forma de apagões.
Isto acontece porque, no Brasil, há mais consumo do que produção de energia elétrica, e o gasto exagerado ocorre por práticas pouco racionais e pelo desperdício. Por ter muitas coisas em abundância - como o alimento, por exemplo, embora ele falte em muitas mesas - o brasileiro acostumou-se a desperdiçar. Com a energia não é diferente.
Há apreensão geral com o que vem pela frente, sobretudo no meio empresarial. As indústrias terão que reduzir a produção, justamente num momento em que as vendas estão aquecidas. Os empresários fazem cálculos e não conseguem encontrar fórmulas de compensar o anunciado racionamento. Queixam-se dos governos, por haverem investido pouco na geração de energia elétrica, nos últimos anos, e entendem que o poder público tem obrigação de garantir infra-estrutura para o setor produtivo.
O racionamento que vem aí é uma contingência e não há como fugir dele, nas atuais circunstâncias, mas a população pode amenizá-lo grandemente, com a adoção de práticas que levem à redução do consumo de energia. Uma empresa nacional de supermercados passou a construir suas lojas com pé-direito mais baixo, para economia de ar condicionado, e as câmaras frias têm horário predeterminado para serem abertas. A empresa equipou-se com geradores próprios, para compensar os horários dos apagões.
A verdade é que, até o anúncio desse racionamento, que já era previsto porém nunca foi levado a sério, as empresas preocuparam-se pouco com a questão do excessivo gasto de energia elétrica. Algumas delas, agora, começam a promover campanhas educativas junto aos trabalhadores para que apaguem lâmpadas em ambientes vazios e desliguem equipamentos que não estão sendo ocupados no momento.
O mesmo deve ocorrer nas residências, porque a questão agora não é apenas baixar a conta mensal do consumo, mas atender a um problema de interesse coletivo. Se o Brasil paga um preço pelo seu crescimento - que não cessa de ocorrer, apesar dos entraves dos governos - também tem pago caro pela negligência na atenção a esse setor e pelo abuso no desperdício.
As crianças já deveriam ser ensinadas, nas escolas, a economizar, mas é justamente ali onde, ao contrário, se ensina o desperdício, pelo excesso de material escolar exigido - e ademais luxuoso para os padrões brasileiros - e pelo mau uso dele em função de caprichos dos mestres.
As práticas familiares mais comuns de desperdício de energia são as lâmpadas acesas sem necessidade, televisores constantemente ligados, banhos prolongados e outros excessos. As casas terão que ficar menos iluminadas, e isto favorecerá a ação dos ladrões e assaltantes, mas o certo é que a energia elétrica terá de ser economizada enquanto não forem encontradas formas alternativas de produção de luz-e-força. O racionamento de agora deverá ativar a criatividade nesse campo. É nas dificuldades que o homem aprende a mudar de hábitos.