Tem razão o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ao afirmar que, diante de tantas denúncias de corrupção no governo, ou se apura todas essas acusações e se põe um ponto final nisso, ou vamos virar ‘‘o país do denuncismo’’.
Com efeito, a nação já está cansada de acusações e contra-acusações de políticos, como acontece agora entre os senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, um denunciando o outro por enriquecimento ilícito, e especialmente ACM acusando o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Há pelo menos 11 frentes que estão exigindo investigação, e para isso os partidos de oposição começam a recolher assinaturas, visando criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito que ponha a limpo esse rol de denúncias. Entre elas a do chamado Dossiê Caymã, que envolve vivos e mortos. Entre os vivos, o próprio FHC.
Torna-se necessário que tudo se esclareça e que a sociedade seja informada, porque essa saraivada de denúncias pouco lhe interessa, mas interessa-lhe saber a verdade. Querem os cidadãos, acima de tudo - como enfatiza Lula - que se coloque um ponto final nisso e assim se restabeleça a ordem e a paz social.
Já é tempo de a comunidade política - aí figurando, na linha de frente, o presidente da República - abandonar o velho discurso da troca de acusações e debruçar-se na discussão das grandes questões nacionais. As lideranças empresariais e representativas das demais classes, assim como a comunidade científica e os organismos não-governamentais, aguardam por esta decisão e pelo chamamento para o debate conjunto.
A sociedade organizada tem muita contribuição a dar, mas para isso será necessário que o chefe do governo se mostre receptivo e disposto a ouvi-la, para não ficar depois se lamentando e lançando adjetivações carregadas de egoísmo e de amor-próprio ferido - como é de seu estilo - contra os que o criticam pela ausência e omissão.
Já se prevê que, faltando menos de dois anos para o final do mandato de FHC, e pelo ritmo lento e frouxo que ele tem imprimido às suas decisões, pouco se deve esperar do atual ocupante do Palácio do Planalto.
Mas não se deve desperdiçar tão precioso tempo, porque se as coisas andam vagarosas com o presidente que temos, é preciso continuar a marcha, apesar dele. Enquanto velhos caciques políticos se escalpelam e as CPIs fazem seu trabalho, as lideranças deste país não podem ficar em atitude contemplativa esperando por dias melhores, porque por si sós eles não virão.
Não se pode descartar, nesse processo, segmentos competentes que existem dentro da própria classe política, mas se pouco se espera do atual governo, há que ir pavimentando o caminho para o próximo, para que o Brasil não se atrase ainda mais no exame e discussão de suas grandes causas. Não é preciso esperar o resultado das CPIs nem o sinal do presidente da República para dar início a esse trabalho.