EDITORIAL
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 20 de fevereiro de 2001
Se o próprio estudo de impacto ambiental para implantação do gasoduto no Norte do Paraná já apresenta falhas, imagina-se que o empreendimento seguirá esse mesmo diapasão, quando estiver operando. Essas falhas foram apontadas pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, em Londrina, que detectou a ausência de respostas a alguns questionamentos de vital importância e a existência de lacunas que implicariam em graves consequências para o meio ambiente e principalmente para a população.
Alertando que será necessária cautela redobrada, a promotoria aponta 12 falhas no documento, entre elas falta de especificação da matriz energética, ausência de descrição do projeto para o perímetro urbano, ausência de relação de áreas impactadas, ausência de especificação e detalhamento do meio econômico e cultural, falhas no programa de comunicação social e ausência do plano de contingência.
A promotoria também encontrou falhas no plano de emergência, ausência de análise de avaliação e gerência de riscos, ausência de planos de defesa civil e de preparação de comunidades, ausência de informações sobre assessoria após acidentes, ausência de avaliação das condições operacionais do corpo de bombeiros etc. Ausências demais para um empreendimento de tamanha envergadura.
No que respeita a Londrina, o presidente da Autarquia Municipal do Meio Ambiente (AMA) já se manifestou contrário a um dos empreendimentos uma usina termelétrica que podem surgir na esteira do gasoduto a partir das reservas de Pitanga ou da Bolívia. Aponta o alto dano ambiental provocado pela devolução aos rios das águas superaquecidas dessa geradora.
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) já declara que segue as decisões que cada município tomar são 11 os que estão na linha do gasoduto, no Norte do Paraná e que não concederá licença se a comunidade não quiser o gás. A ausência de Londrina nesse plano da Compagas a companhia, subsidiária da Copel, que gere o negócio tornaria antieconômica a implantação do gasoduto.
Em pronunciamento a este jornal, dia 11 último, o professor e físico Walter Bautista Vidal, uma das maiores autoridades brasileiras em estudos de fontes energéticas e suas consequências, manifestou-se contrário a projetos como as termelétricas a gás natural. Considera-as fontes sujas, e ademais alerta para o risco da formação de cartéis, que poderão impor preços abusivos e até a chantagem do fechamento das torneiras.
Sempre causa entusiasmo um fato novo que se apresenta, e a descoberta de reservas de gás natural em pleno centro do Paraná significa uma verdadeira mina de dinheiro, com o aceno de grande desenvolvimento econômico. Mas nem tudo o que gera riqueza deve ser adotado se oferece riscos paralelos difíceis de ser eliminados depois, sobretudo quando afetam o meio ambiente, já tão duramente castigado no Paraná por hidrelétricas e refinarias de petróleo.
Recorda-se que foi em nosso Estado que ocorreu o maior desastre ecológico entre os registrados pela Petrobras, que foi o vazamento, em julho do ano passado, de 4 milhões de litros de óleo, que resultaram em violentos danos à fauna e à flora dos rios Iguaçu e Barigui. E mais não bastasse, foi no Paraná que a insensatez dos governantes cometeu um dos mais hediondos crimes contra a natureza, que foi o sufocamento de Sete Quedas.
Não fiquemos, pois, tão entusiasmados com acenos de desenvolvimento econômico que um gasoduto ou uma usina termelétrica possam trazer, porque já temos energia elétrica suficiente por bom tempo, e quando essa fonte for se tornando escassa certamente a tecnologia terá descoberto outras, limpas e sem riscos. O manancial de produção de energia ainda não deu sua última palavra. É preciso distinguir agora o que é puro negócio e o que é necessidade, para não sofrermos depois amargos arrependimentos.