EDITORIAL
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 16 de outubro de 2000
Quando fazia campanha eleitoral, a fim de garantir a eleição de seu candidato ao Governo do Estado, em 1964, Ney Braga dizia que, se a Copel parasse de gerar energia, o Paraná ficaria às escuras. Discurso de campanha, revelava uma realidade: durante seu primeiro período como governador, Ney Braga provocou uma mudança na própria geografia do Estado, contribuindo de modo efetivo para reduzir o divisionismo que era comum pelos anos 50. Com a Estrada do Café, unindo Norte e Sul, Ney Braga lançou uma ponte eficaz no sentido de aproximar os paranaenses. E de tal modo foi sua presença efetiva, a partir dos anos sessenta, que novas lideranças políticas surgiram no Estado à sua sombra.
A carreira política de Ney Braga acabou de certo modo modificada pelos eventos que marcaram a vida brasileira a partir de 1964. Até então, a fulgurante caminhada do político que foi chefe de Polícia (cargo hoje equivalente ao de Secretário de Segurança do Estado), prefeito de Curitiba e governador do Paraná, elegendo-se pela oposição, dava sinais de uma trajetória ascendente, capaz de projetá-lo além dos limites do Estado. Isto de fato aconteceu, mas sob a marca da Revolução, o que criou uma situação que iria acabar se tornando muito desconfortável. Ney Braga ficou ao lado da Revolução, em 1964, em uma definição quase que inevitável face às circunstâncias. Como consequência desta postura, entre outras coisas, acabou guindado ao Ministério do primeiro Governo revolucionário, figurando com destaque como uma das lideranças políticas mais expressivas da época. Seu nome chego a ser cogitado para a presidência, ou no mínimo para a vice-presidência, em dado momento, durante os entendimentos políticos das lideranças revolucionárias.
Entretanto, o desgaste do regime totalitário acabou por atingir também o político, que acabou sofrendo revezes eleitorais inesperados, depois de ter feito uma carreira baseada no voto.
É inegável que, se houve um homem público que marcou de modo firme a História do Paraná, nesta segunda metade do século 20, este foi Ney Braga. As mudanças que provocou na vida do Paraná, em seu primeiro mandato, e depois pela influência exercida no plano federal, representaram um marco definitivo para a projeção do Estado. A liderança que exerceu no período trouxe novas vocações políticas que acabaram se consolidando, tanto na situação como na oposição. De fato, é difícil encontrar algum político paranaense, nestes últimos anos, que não tenha sido de algum modo influenciado pela força e pelo carisma de Ney Braga.
A morte de Ney Braga deixa um vazio político na vida paranaense que deve levar a uma análise mais profunda sobre os malefícios provocados na vida de um povo por regimes totalitários. Na época em que Ney surgiu no cenário estadual, projetando-se na política nacional, estavam também aparecendo algumas novas lideranças entre as quais a de Jânio Quadros que surgiu na política paulista quase ao mesmo tempo, e em condições similares às de Ney Braga que sinalizavam para um novo rumo na vida nacional. O golpe militar prejudicou a carreira política de Ney Braga, sustou o processo natural que vinha despontando no começo dos anos 60, deixou vazios até hoje não preenchidos. Ney Braga foi mais uma das lideranças dessa época marcante na vida do país, que se vai e que deixa saudades e um vácuo político.