Valorização dos sindicatos
A denúncia da ‘mundialização da pobreza’ e a valorização do sindicalismo foram os temas que marcaram o 17º Congresso da Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres (CIOSL), realizado na África do Sul. ‘‘A mundialização deve permitir a distribuição da prosperidade em todo o mundo’’, declarou o vice-presidente sul-africano, Jacob Zuma, ante cerca de 1.200 delegados reunidos no centro de conferências de Durban. ‘‘A coexistência de uma pobreza extrema e de uma imensa riqueza na ‘aldeia global’ significa instabilidade a longo prazo, pois a maioria pobre terá de lutar por melhores condições de vida’’, explicou. Zuma se disse favorável a um movimento sindical forte, bem organizado, visionário e independente. Por sua parte, o secretário geral da CIOSL, Bill Jordan, afirmou que o sindicalismo continua sendo ‘‘o mais seguro inimigo de toda tirania, pública ou privada’’. O secretário-geral da CIOSL também denunciou a mundialização, afirmando que a riqueza está concentrada nas mãos dos diretores das multinacionais, que utilizam o poder econômico de maneira intimidante em todo momento e em todo o mundo. Jordan se referiu à crise financeira na Ásia que desestabilizou numerosos países e afundou milhões de pessoas na pobreza para destacar que o mundo esperava regulamentações internacionais coercitivas em matéria financeira.
Por seu turno, o chileno Juan Somavía, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), enfatizou que a globalização deve se adaptar às necessidades das populações, assinalando que se isto não ocorrer a situação dos povos mais pobres será cada vez pior. Somavía também defendeu um trabalho decente fundado no respeito aos princípios fundamentais da dignidade humana, assim como melhores empregos e uma proteção social eficaz. Considerando que o desemprego continua a ser um assunto crucial, que afeta também o mundo desenvolvido mas é o grande inimigo dos trabalhadores nos países em vias de desenvolvimento, lembrou que se a pessoa está desempregada no Norte, tem sistemas de assistência social, enquanto que no Hemisfério Sul, o desempregado é praticamente um marginal. Depois de lembrar que a OIT é a única instituição internacional em que os trabalhadores estão na direção, Somavía convidou a CIOSL a mudar suas estruturas sem alterar seus valores para encontrar sua força nas alianças com a sociedade civil.
Neste momento em que em todo o mundo, tanto nas nações mais desenvolvidas como nos países pobres, o desemprego constitui um dos mais sérios desafios à própria estabilidade social, as observações feitas durante o conclave realizado na África do Sul são valiosas. Evidenciam o papel fundamental do sindicalismo para oferecer caminhos visando ajudar na solução do problema. A afirmativa segundo a qual o sindicalismo constitui fator concreto na luta contra qualquer tipo de tirania é muito fundamentada. Em países totalitários, ou os sindicatos são postos fora da lei ou se convertem em instrumento de demagogia e peleguismo, funcionando como elementos auxiliares na privação da liberdade e da dignidade humanas. Só em regimes democráticos floresce o sindicalismo capaz de produzir mudanças. Entretanto, para que isto ocorra é necessário que as lideranças dos trabalhadores sejam efetivamente ligadas às bases, produzindo assim os resultados efetivos para as mudanças capazes de garantir o emprego, o salário, enfim a dignificação real do trabalhador. Sindicatos livres, fortes e realmente voltados para o interesse de seus membros podem ser a resposta aos reclamos dos trabalhadores em todo o mundo.