Confirmando as previsões feitas já no mês passado, a inflação revela estar novamente em franca queda em fevereiro. Em janeiro, como se recorda, houve forte elevação no índice inflacionário, o que era esperado diante das correções feitas principalmente nos preços dos combustíveis. Mas, deixando evidente que o mercado brasileiro está bem diferente agora do que há algum tempo, a alta do primeiro mês do ano não causou efeitos colaterais. Os próprios reajustes provocados pela elevação nos combustíveis estiveram em nível comportado, o que permitiu que a taxa baixasse, restaurando a confiança na possibilidade de se ter em 97 índice ainda menor que o do ano passado, o que projeta a continuidade de sucesso do programa de estabilização da economia.
Esta queda registrada em fevereiro, antecipada até pelo governo, mostra que o País continua efetivamente no caminho certo. Os números da inflação de 1996 foram muito bons e o próprio plano de estabilização exige que em 97 sejam ainda melhores. O ideal, é importante sempre repetir, não é inflação baixa: é inflação zero, até mesmo deflação. Como existe uma inflação mundial, é quase impossível esperar por uma taxa negativa. Todavia, o fundamental é que se persista neste objetivo. Atingir níveis cada vez mais baixos constitui desafio, mas os brasileiros já perceberam que não é uma impossibilidade.
Mantendo-se os níveis previstos para fevereiro e havendo continuidade neles ao longo do ano, a meta de inflação de 5% neste ano não parece mais tão impossível quanto seria de se supor há um ou dois anos. A verdade é que, embora o governo não tenha ainda realizado as reformas necessárias e apesar da persistência do déficit público, o esforço do povo tem dado resultado efetivo no sentido de se manter a estabilidade, com todas as suas vantagens. Todavia, persiste ainda certo temor diante de futuras atitudes oficiais. Com efeito, conforme se ressaltou até no final do ano passado, a inflação brasileira poderia ter sido até menor, não fosse a inabilidade do governo, que forçou uma alta no preço devido a reajustes das suas tarifas e dos produtos com preços controlados.
É preciso persistir tanto na cobrança ao governo e também na conscientização do povo sobre esta nova realidade que surge em uma economia estável. Hoje, não se deve pensar mais em altas, mas em racionalização. O salário, por exemplo, é naturalmente submetido às mesmas leis do mercado. Tem subido pouco e é certo que não subirá também no futuro. O problema todo está, assim, na valorização do ganho e na persistência da ação contra especulação e abuso de qualquer espécie. Do mesmo modo, é necessário continuar no processo de esclarecimento do cidadão sobre seus direitos e deveres, fazendo-o participante consciente dentro do processo. Não se trata mais de persistir na idéia de culpar o governo (embora os administradores ainda falhem muito), mas de cobrar pelos erros e até de manter atenção para afastar, pelo voto, os que se revelem incompetentes ou incapazes.
Os números da inflação de fevereiro são alentadores, sem qualquer dúvida, mesmo considerando que se trata do mês mais curto do ano. Ainda assim, diante da alta de janeiro, a preocupação sobre o programa todo da estabilização era grande. Importa que persista a luta no sentido de que o índice continue em queda, o que é plenamente possível. Mais importante ainda é que não se perca de vista que a estabilização não é um processo com prazo definido. É uma batalha constante, exigindo atenção, cuidados e sacrifícios. Mas, como os brasileiros já conseguiram perceber desde que o real foi criado, vale a pena lutar por isto.