Em entrevista recente à Globo News, o prefeito reeleito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), discordou do posicionamento de Ana Carolina Dartora (PT), a primeira mulher negra a se eleger vereadora na capital paranaense, ao negar que exista racismo estrutural na cidade. Para ele, o fato de a primeira engenheira negra do Brasil, Enedina Marques, ter sido uma frequentadora da casa dos seus pais, anula o histórico de preconceito racial em Curitiba.

O argumento é facilmente desmontado. Não é preciso ir muito longe para se deparar com exemplos contundentes. Em junho deste ano, uma juíza da 1ª Vara Criminal de Curitiba afirmou em decisão que “seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta”.

Em sua defesa, a magistrada emitiu nota pedindo desculpas, reconhecendo que o racismo representa “prática odiosa que causa prejuízo ao avanço civilizatório”, mas afirmou que a frase foi retirada de contexto. Um procedimento chegou a ser aberto, mas o processo foi arquivado, em setembro, pela Corregedoria do Tribunal de Justiça do Paraná.

Também em junho, uma manifestação com cerca de mil participantes contra o racismo, na Praça Santos Andrade, foi reprimida com bombas pela polícia. O ato citava o assassinato de George Floyd pela polícia dos Estados Unidos, mas também denunciava os elevados índices de violência contra a população negra no Brasil.

Não bastassem os casos amplamente divulgados pela imprensa estadual e até nacional, a própria vereadora eleita denuncia, conforme reportagem publicada pela FOLHA nesta edição, o recebimento de ameaça de morte por meio de e-mail. Ignorar a violência fermentada pelo preconceito racial seria chancelar a impunidade e dar ao Paraná uma “Marielle Franco” para chamar de sua. É preciso rigor nas investigações para que o assassinato da parlamentar carioca, perto de completar mil dias sem solução, não se repita.

Nos tristes subtrópicos brasileiros, onde 78% da população é branca, a representatividade da população preta, a soma de negros e pardos, segundo o IBGE, é ainda menor. Na próxima legislatura da capital paranaense, dos 38 vereadores eleitos, apenas três são negros. Além de Carol Dartora, também estarão o professor da área de direito Renato Freitas (PT), e o jornalista Herivelto Oliveira (Cidadania). Londrina não terá nenhum vereador negro. Dos 1.191 municípios do Sul do País, Lidianópolis (Vale do Ivaí) é o único a ter prefeito autodeclarado preto: Adauto Mandu (Podemos).

A consolidação do protagonismo negro no Paraná precisa de muitos outros Adautos, Anas e Enedinas. É preciso avançar e reconhecer o racismo é o primeiro passo.

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