O título do livro da historiadora fluminense Mary Del Priori, lançado no ano passado pela editora Planeta, retrata com precisão a vida de milhares de mulheres brasileiras que se tornaram protagonistas na luta contra a pandemia da Covid-19. Sobreviventes e guerreiras. É a história de vida das profissionais de saúde londrinenses que atuam na linha de frente de combate contra um dos mais perigosos inimigos da história recente da humanidade.

Dos 2.700 servidores do Hospital Universitário de Londrina, 1.800 são mulheres, o que representa dois terços do quadro de trabalhadores. E a instituição, referência no tratamento da doença provocada pelo novo coronavírus para todo o Norte do Estado, tem uma particularidade: a liderança é 100% feminina. Coube a quatro mulheres a responsabilidade de administrá-lo em um momento tão singular da história.

A presença feminina também se destaca em outras unidades de saúde da cidade e região, como no Hospital Evangélico, Santa Casa. O desafio ainda está longe do fim, mas as profissionais de todas as classes que movem as engrenagens desses hospitais seguem firme na luta, como verdadeiros exemplos. Em troca, pedem apenas que cada um faça sua parte para evitar o aumento do contágio.

Neste Dia Internacional da Mulher há que se ressaltar também o papel daquelas que assumiram para si a responsabilidade de chefiar a família. Segundo pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), 45% dos lares brasileiros são comandados por mulheres. Com dinamismo e espírito de empreendedorismo, muitas mães de família conseguiram se reinventar, amenizando assim os impactos da crise que assola o país.

Os cinco séculos de história do país mostram que a brasileira sempre procurou se reinventar, achar um espaço, resistir. Em seu mais recente livro, Priori narra histórias desde as indígenas que os portugueses encontraram por aqui às afrodescendentes; daquelas que pegaram na enxada e viveram nos campos e cafezais às que trabalhavam na casa-grande como escravas, empregadas e amas de leite; das operárias e trabalhadoras às artistas de rádio, cinema e televisão.

É consenso entre os estudiosos que não sairemos iguais deste pesadelo. Ao vencer esta pandemia, será preciso que outra seja erradicada: a da violência doméstica, que em sua esteira, carrega outros abusos que vão desde o assédio até a desigualdade de salários. Que a sociedade pós-Covid consiga rever seus erros e planejar um futuro onde a mulher tenha o tão negligenciado papel de destaque que sempre lhe coube.

É um privilégio ter vocês como nossas leitoras!