Após subestimar a letalidade e o tamanho do impacto da pandemia da Covid-19 sobre a economia brasileira, o ministro Paulo Guedes (Economia), fez mais uma previsão otimista em relação à curva de contaminação da doença. Segundo o ministro, com a vacinação concentrada nos grupos mais vulneráveis à doença, o novo coronavírus deve perder força nos próximos três meses, o que contribuiria para o fortalecimento da retomada da economia.

No entanto, o prognóstico não é consenso nem mesmo entre sua própria equipe econômica. Outro fato que pesa é que esta não é a primeira vez que o titular da Economia faz previsões positivas em relação à pandemia. Nas vezes anteriores, suas projeções acabaram frustradas. Guedes calculou em R$ 5 bilhões o gasto para exterminar o vírus, por exemplo. Mas só em 2020 foram usados R$ 524 bilhões em medidas contra a Covid.

Entre os especialistas em saúde pública, o tom das previsões é muito mais ponderado. Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, disse em entrevista recente à Folha de São Paulo que há riscos de continuidade da pandemia até o ano que vem. Para membros da OMS (Organização Mundial da Saúde), o cenário desenhado por Guedes é “prematuro e irrealista”, ainda mais se levada em conta a velocidade da vacinação.

Outro ponto que contribui para o agravamento do problema é que, com a imunização da faixa de idosos e com a maior circulação das novas cepas do coronavírus, é justamente o grupo em idade produtiva que passa a ser mais atingido pelo vírus, seja em mortes ou em casos mais graves, que resultam em sequelas.

Reportagem desta edição da Folha de Londrina mostra que o número de mortes entre as pessoas com 20 e 59 anos no Paraná aumentaram mais que quatro vezes nos últimos meses. É mais que urgente que o ritmo da vacinação acelere para que medidas restritivas mais duras não precisem voltar a ser aplicadas para se evitar um caos ainda maior.

Por muitas vezes, até mesmo a cobertura da imprensa sobre a Covid-19 é taxada como “pessimista”. Infelizmente, o mundo vive o momento mais trágico de sua história moderna e o tom do noticiário não poderia ser diferente. O primeiro passo para enfrentar um adversário tão poderoso como uma pandemia é respeitá-lo. Noticiar os fatos e manter uma visão realista, baseada em opiniões de quem realmente entende do assunto, é um dever do Jornalismo. Quando se analisa a retrospectiva das declarações daqueles que tentaram amenizar o impacto da pandemia, fica muito claro que só otimismo não resolve.

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