EDITORIAL - Racismo e violência policial
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terça-feira, 01 de junho de 2021
Folha de Londrina
Quando realizava as pesquisas in loco para filmar a franquia "Tropa de Elite", o cineasta José Padilha ouviu, pelo rádio de uma viatura policial do Rio de Janeiro, algo que jamais esqueceria. Ao alertar sobre um possível assalto em andamento, o policial disse que um homem de "cor padrão" corria pela calçada após roubar a bolsa de uma mulher. A "cor padrão" pelo qual o suposto ladrão era identificado todo mundo deve imaginar. A Polícia Militar do Rio descrevia um homem negro.
No último dia 25 de maio completou um ano da morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos, nos Estados Unidos, após um policial branco tê-lo algemado e pressionado o joelho em seu pescoço por nove minutos, até a sua morte.
A brutalidade policial ocorrida em Minneapolis provocou protestos intensos que se alastraram pelos EUA e outros países e influenciaram na derrota do ex-presidente Donald Trump à corrida presidencial americana.
O ex-policial que sufocou Floyd até a morte, Derek Chauvin, foi julgado e condenado e sua pena será conhecida no dia 16 de junho.
As histórias de racismo estrutural pautando a violência policial se repetem nos EUA, e no Brasil não é diferente. Em alguns casos, acabam em morte de inocentes. Em outros, as vítimas do racismo estrutural sobrevivem para contar a sua história.
No dia 28 de maio, um ciclista negro filmou quando foi abordado por dois policiais militares em uma praça de Cidade Ocidental, nas proximidades do Distrito Federal. Ele fazia manobras de bicicleta para postar em seu canal no YouTube, quando foi abordado de forma truculenta por um dos PMs, que armado exigiu que colocasse as mãos na cabeça.
Quando questionou o porquê da abordagem, o rapaz, que é eletricista, foi algemado, levado à delegacia e obrigado a assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência por desobediência.
O motivo da abordagem é bastante claro. Provavelmente, os policiais em questão não imaginaram que um indivíduo da "cor padrão" - relembrando José Padilha - pudesse comprar uma boa bike de manobras e tirar uma manhã de sexta-feira para pedalar em uma praça.
Política de segurança baseada em cor de pele não é uma política. Não é possível generalizar e há muitos bons policiais empenhados em agir de forma a não normatizar o preconceito como conduta. Mas eles sabem que é preciso trabalhar dia após dia nesse sentido em uma luta constante.
Os veículos de imprensa do país, incluindo a Folha de Londrina, vêm dando destaque para a temática do racismo estrutural, debate que precisa ser feito. Mas muitos brasileiros ainda não se enxergam na dor de quem sofre diariamente o preconceito por raça e cor.
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