Até parece que não estamos num país em que ossos são disputados nos açougues pelos pobres que buscam, como podem, um pouco de proteína.

Até parece que não estamos no país do "osso de primeira" e "osso de segunda", como nos açougues que vendem as sobras em Fortaleza (CE).

Quando olhamos o volume de dinheiro disputado pelo governo e os políticos de modo geral, em ações articuladas como a PEC dos Precatórios, ficamos confusos como cidadãos comuns, desacostumados a altas cifras.

No discurso oficial, a PEC abrirá um espaço de R$ 91,6 bilhões para novas despesas em 2022. E diante do volume de dinheiro a ser movimentado de uma finalidade para outra, vem amarrada a proposta de liberar R$ 50 bilhões para o Auxílio Brasil, o novo Bolsa Família de R$ 400,00, prometido pelo governo como uma atenuante do ato. Mas diante da proposta, a pergunta que fica é: o que será feito com o restante do dinheiro? Segundo a planilha oficial, servirá ao ajuste de benefícios; elevação de outras despesas obrigatórias, despesas de vacinação Contra a Covid-19, vinculação de teto aos demais poderes e subtetos.

Ou seja, tudo conforme o figurino. Mas dizem os críticos que haverá uma parte deste dinheiro que deverá encorpar recursos para parlamentares em ano de eleição.

O que assusta é que na votação de quinta-feira (4), o governo teria liberado, pelo chamado orçamento secreto, R$ 1,2 bilhão para garantir a aprovação da proposta já no primeiro turno.

Na sexta-feira (5), a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Rosa Weber determinou a suspensão imediata do pagamento das emendas do orçamento secreto.

Zonzos com tanto dinheiro sendo discutido e repartido debaixo dos nossos olhos de nação castigada por tributos - seja no caso de pessoas físicas ou jurídicas - ficamos na expectativa de que isso um dia possa mudar.

Após a votação do texto-base da PEC dos Precatórios no primeiro turno, partidos ainda foram sacudidos por lideranças como Ciro Gomes que considerou uma traição os votos dados pelos deputados do seu partido, o PDT, a favor da PEC. Ele ameaçou, inclusive, retirar sua candidatura em 2022, mas o presidente do partido, Carlos Lupi, já tratou de colocar panos quentes na situação, afirmando que o PDT irá reverter esses votos.

Muitas águas ainda vão rolar até a próxima terça-feira (9), data estimada para a votação da PEC em segundo turno. O que entristece , independentemente dos resultados, é que deste volume de dinheiro dos precatórios, pelo menos R$ 16 bilhões eram relacionados a dívidas do governo com o Fundeb (Fundo de Manutenção de Educação Básica) de estados como Bahia, Ceará, Pernambuco e Amazonas, o que inclui também o pagamento de professores. Na nova proposta, esses precatórios serão pagos em três vezes - sendo 40% em 2022, e 30% em 2023 e 2024 , respectivamente.

A conta é simples: enquanto a educação aguarda o que lhe é de direito a conta-gotas, verbas para financiar campanhas e partidos nunca faltam e estão sempre em dia. Viver no Brasil como cidadão comum tem sido realmente um osso duro de roer.

Obrigada por ler a Folha de Londrina!