A vitória de Emmanuel Macron nas eleições da França no último domingo (24) significa que o centro ganha um fôlego na Europa em meio ao crescimento da extrema-direita que põe em risco muitos preceitos da democracia.

Macron teve 58,6% dos votos contra 41,46% de Marine Le Pen. Os dois voltaram a se enfrentar cinco anos depois da primeira disputa, quando Macron também havia vencido as eleições.

Se Le Pen tivesse vencido muitas coisas estariam em risco não só na França, mas na Europa. A manutenção no poder de um presidente que é membro da Otan e da União Europeia foi decisiva para a unidade dos países que defendem a Ucrânia, por exemplo. Le Pen apoia Putin e seus gritos nacionalistas com certeza fraturariam a aliança dos países anti-Rússia.

Mas deve-se levar em conta que a sociedade francesa está mudando e isto explica o alto índice de abstenções nestas eleições. Isso certamente motivou Macron a falar fortemente numa "nova era" após vitória. A França, como outros países do mundo, precisa se voltar mais para suas questões internas e para as classes menos favorecidas do que para questões globalizantes.

Cada povo espera de seu presidente um olhar especial sobre seus problemas mais imediatos e isso implica em soluções para parcelas mais empobrecidas da população, uma vez que o próprio conflito da Ucrânia e outros movimentos em massa de exilados de seus países de origem forçam outras nações a redistribuir a renda para atender demandas específicas e necessidades de uma sociedade em mutação.

Um olhar mais generoso para esses movimentos migratórios deve forçar os países da Europa e de outros continentes a tecer políticas mais solidárias e empáticas. Não é mais possível ficar "cada um no seu quadrado" como se o problema do outro não fosse nosso próprio problema.

No Brasil não é diferente e aqui o próximo presidente deverá levar em conta de maneira muito séria o desemprego, que está fazendo história há bem mais de uma gestão, e o nível de miséria que tem se alastrado a olhos vistos após a pandemia. Basta circular nas médias ou grandes cidades para observar o número crescente de moradores de rua que mostram um país em colapso econômico.

Guardadas as devidas proporções, as correntes migratórias, a falta de oportunidades e outras mazelas típicas de um mundo em convulsão apontam realmente para a necessidade de uma "nova era" e não se trata apenas de retórica.

Não basta a troca de presidentes se não se consolidarem mudanças legislativas que na França estão previstas para as eleições de junho. Sem um Congresso forte nenhum presidente pode fazer milagres.

As verdadeiras mudanças não dependem de um pleito ou um presidente, mas de um processo inteiro afinando a orquestra da transformação.

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