EDITORIAL - O trauma de 2018
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sexta-feira, 10 de setembro de 2021
Folha de Londrina

O brasileiro foi dormir na última quarta-feira (8) assombrado pelo fantasma de mais uma greve de caminhoneiros, medo que se prolongou durante toda a quinta-feira (9). O movimento, que não têm uma pauta definida e nem se concentra em lideranças sindicais, aconteceu de forma pontual em estradas de 15 estados.
Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha enviado um áudio a caminhoneiros pedindo que liberassem as estradas do país, com o argumento de que a paralisação "atrapalha a economia", alguns manifestantes resistiam ao apelo do chefe de Estado. A pauta do movimento dos caminhoneiros não era clara. Diferentemente de 2018, quando a categoria parou em protesto pela política de reajuste dos preços dos combustíveis, desta vez a pauta era evidentemente política e incluía o afastamento do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes.
Mas nessa quinta-feira, após Bolsonaro se reunir com o ex-presidente Michel Temer na busca de soluções para a crise com o STF, ele recuou das declarações feitas contra a Suprema Corte e divulgou uma declaração afirmando que não teve intenção de agredir nenhuma instituição.
A motivação do presidente Bolsonaro em pedir para que os caminhoneiros desocupassem as estradas se baseia no trauma deixado pelos 10 dias de greve de 2018. O movimento causou desabastecimento de combustível e falta de produtos nas gôndolas dos supermercados.
E os efeitos não se restringiram aos 10 dias de paralisação. A economia desabou e derrubou o resultado da produção industrial daquele ano. Em 2021, como em 2018, é possível se perguntar se foi apenas greve ou se temos o agravante de um locaute?
Chama atenção que as manifestações não foram comandadas pelas lideranças tradicionais de caminhoneiros, mas organizadas em grupos de WhatsApp e Telegram.
Na quinta-feira, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou que a mobilização havia terminado na região de Londrina e que as rodovias foram liberadas. Em outras estradas do Paraná e outros estados, as notícias davam conta de que grupos de manifestantes ainda se mantinham mobilizados.
Aos brasileiros resta começar a sexta-feira na expectativa de que os seus caminhos estejam livres. Mais uma vez, uma greve de caminhoneiros expõe como o Brasil é um país complexo.
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