EDITORIAL - Não é culpa da imprensa
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020
Folha de Londrina
É graças ao seu papel de fiscalizar os poderes que a imprensa se tornou alvo constante de ataques. A imprensa realmente incomoda quando expõe as mazelas da sociedade e cobra de autoridades que tenham comportamento honesto e adequado ao cargo que ocupam.
A última enxurrada de críticas contra a imprensa veio como contra-ataque do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) à reportagem da Revista Época sobre uma suposta produção de relatórios para orientar a defesa do senador Flávio Bolsonaro no intuito de anular as denúncias e investigações do caso das rachadinhas.
Os relatórios teriam sido feitos por funcionários da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Segundo a apuração da revista, as orientações da Abin teriam sido enviadas por WhatsApp e digitadas diretamente no aplicativo. Seriam dois textos com sugestões envolvendo a demissão de servidores, orientando a defesa do filho do presidente Jair Bolsonaro a buscar acesso a dados da Receita e outros.
A partir dessa reportagem, a Rede Sustentabilidade acionou o STF (Supremo Tribunal Federal) e a ministra Carmem Lúcia pediu explicações ao GSI. O general Augusto Heleno respondeu ao Supremo que não tem como se manifestar sobre um documento que ele diz desconhecer e partiu para o ataque contra a imprensa, chamando a reportagem de especulativa, leviana e mentirosa.
Esses relatórios seriam desdobramentos de uma reunião ocorrida em agosto com a participação da defesa de Flavio Bolsonaro com Augusto Heleno, Alexandre Ramagem, chefe da Abin, e do próprio presidente da República. Essa reunião já é alvo de investigação preliminar da Procuradoria-Geral da República.
A tática de atacar a imprensa quando confrontado é recorrente entre as autoridades brasileiras. Reclama-se do jornalista e assim deixa-se de responder às perguntas. A denúncia trazida pela revista precisa ser investigada pois, se comprovada, estamos diante de um sério caso de aparelhamento do Estado brasileiro em favor do filho do presidente da República.
Os veículos de comunicação cometem erros e tem todos os dias a oportunidade de reconhece-los e corrigi-los perante o seu público. Mas é preciso reconhecer que a imprensa profissional é uma das instituições que têm o dever de guardar a democracia cumprir essa tarefa envolve trazer à tona fatos que muitos gostariam de esconder. Assim, qualquer tentativa de intimidar o trabalho dos jornalistas é um atentado à liberdade de expressão e à soberania do povo.
Obrigado por ler a FOLHA!