A poucos dias da Cúpula de Líderes sobre o Clima, encontro virtual organizado pelo presidente americano Joe Biden, autoridades e pesquisadores da área de meio ambiente questionam como será a participação do Brasil na reunião criada para marcar o retorno dos Estados Unidos à vanguarda da luta contra as mudanças climáticas.

Mensagens divulgadas pela Casa Branca dão conta que a expectativa de Biden é que o presidente Jair Bolsonaro apresente um plano ousado de controle do desmatamento.

Na última quarta-feira, o governo federal apresentou o Plano Amazônia 2021/2022, que visa nortear a conservação do bioma. Mas o documento não foi bem recebido por ambientalistas, que o consideraram pouco ambicioso e com ausência de dados sobre o efetivo e orçamento necessários para cumprir seu objetivo.

A finalidade do Plano Amazônia é reduzir a taxa de desmatamento a até 8,7 mil km², um valor 16% superior ao visto em 2018, último ano antes do início do mandato do presidente Bolsonaro.

Há mais um ingrediente que pode encaroçar o angu do Palácio do Planalto na reunião de Biden. Em março de 2021 foi registrado recorde de alertas de desmatamento na Amazônia na série histórica do Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), sistema de vigilância do Inpe implementado desde 2015. Segundo o estudo, 367 km² de floresta foram perdidos, o que significa um aumento de 12,5% em relação a março de 2020.

A cúpula acontece nos dias 22 e 23 de abril e será realizada virtualmente por causa da pandemia, mas a Casa Branca informou que será transmitida ao público pela internet. Entre os países convidados estão as potências que compõem junto aos EUA o G7 (Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) e os latino-americanos Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e México.

É o primeiro passo importante que o governo dos EUA faz no sentido de se posicionar a favor da luta contra as mudanças climáticas desde que o ex-presidente Donald Trump deixou o Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento global a 2º Celsius acima dos níveis pré-industriais e continuar os esforços para reduzi-lo a 1,5ºC.

Os Estados Unidos deverão aceitar uma proposta tímida dos países convidados justamente porque eles anunciarão uma meta "ambiciosa", com Biden se comprometendo a zerar as emissões de CO2 para o ano de 2030 e a alcançar a neutralidade de carbono na economia do país até 2050.

Um porta-voz do governo americano disse a repórteres brasileiros que neste momento os EUA não vão focar recursos financeiros em troca de promessas de preservação ambiental, como reivindica o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Biden espera ver progressos antes de abrir os cofres para a preservação da Amazônia.

Mostrar compromisso com a redução do desmatamento e com soluções para o problema do aquecimento global é também, para o Brasil, uma questão econômica. A postura adotada até agora pelo governo federal o colocou em uma posição menos atraente para investimentos internacionais que cobram avanços efetivos na agenda climática.

O Brasil não pode simplesmente chegar à cúpula do clima pedindo dinheiro para preservar a Amazônia. É preciso mostrar que tem realmente vontade política e condições de trabalhar pela eliminação do desmatamento ilegal de seus biomas.

Obrigado pela preferência!