Além de serem dotados de populações relativamente pequenas – 5,5 mil e 12,6 mil habitantes, respectivamente, segundo estimativa do censo 2021 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) - e pertencerem à Região Metropolitana de Londrina, os municípios de Jataizinho e Guaraci ganharam o noticiário nos últimos dias por idiossincrasias que a política tanto gosta de promover.

Em Jataizinho, conforme a FOLHA havia noticiado na semana passada e foi o tema do Editorial da edição de segunda-feira (14), a Câmara Municipal aprovou projeto de lei que propõe reajustar em 10% o valor dos salários dos próprios vereadores (são dez no total) e do prefeito, com base no acumulado da inflação de 2021 medida pelo IBGE.

Na prática, os vencimentos do chefe do Executivo passarão de R$ 16,5 mil para R$ 18 mil. Já os vereadores vão receber R$ 5,1 mil em vez dos atuais R$ 4,5 mil – no caso do presidente da Câmara o valor passa de R$ 6 mil. Os vereadores que votaram a favor do projeto argumentaram que o reajuste aplicado fora o mesmo usado para a recomposição salarial dos servidores da prefeitura e do legislativo municipal.

Como disse à FOLHA o vereador Uines Santos (Podemos), um dos que votaram contra o aumento do próprio salário, durante protesto realizado pela sociedade organizada de Jataizinho no último domingo (13): “Boa parte da população do município não ganha mais do que R$ 1,5 mil, o povo vive de cesta básica, como vai subir o salário dos políticos?”.

Já em Guaraci a grita da população também é pertinente em relação a projeto que a Câmara de lá pretende votar nesta terça-feira (15) e que visa aumentar o salário do prefeito para R$ 17 mil. A justificativa é a necessidade de recompor o salário dos médicos do município, o que implicaria num efeito cascata em toda a administração municipal.

Em manifesto nas redes sociais, um grupo de moradores guaracienses questiona a dignidade da proposta em um município de pouco mais de 5 mil habitantes e onde, segundo eles, faltam medicamentos, empregos e atendimento decente nas redes de assistência social.

Os projetos que sustentam a tentativa de vereadores em aumentar os próprios salários e dos chefes dos executivos podem ter o respaldo da lei – embora a própria Câmara de Londrina tenha se notabilizado por aprovar propostas consideradas inconstitucionais pela própria assessoria jurídica da Casa. Mas e quanto aos centenas de milhões de brasileiros que sentem os efeitos de uma crise econômica que corrói o poder de compra por conta da inflação em alta e os quase 15 milhões de desempregados? Passou da hora desse tipo de questionamento pautar as atitudes daqueles que têm o compromisso de zelar pelo dinheiro público.

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