O anúncio de que ao menos 30 servidores do Inep – o órgão responsável por organizar o Enem – pediram exoneração a menos de 13 dias da aplicação do exame é a cereja do bolo do que vem sendo a série de problemas e polêmicas que envolve o Ministério da Educação na gestão do presidente Jair Bolsonaro.

Imagem ilustrativa da imagem EDITORIAL - Mais um problema às vésperas do Enem
| Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

Problemas evidentes quando consideremos o fato de que em três anos de gestão a pasta já teve três ministros. O filósofo e professor em Londrina Ricardo Vélez foi o primeiro e ficou apenas três meses no cargo, envolto a uma polêmica determinação para que os diretores das escolas públicas filmassem os alunos cantando o hino nacional. Ideia que agradou os ideólogos que formam parte da base de apoio do presidente, mas não foi suficiente para manter o professor no cargo.

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Deposto Vélez, Bolsonaro nomeou Abraham Weintraub para comandar a Educação, o que tornou seu antecessor um problema menor. Afinal, em pouco mais de um ano à frente do ministério, Weintraub colecionou polêmicas mais sérias, como por exemplo ter xingado ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) de vagabundos na fatídica reunião ministerial de abril de 2020.

Weintraub deixou o cargo dias depois, dado o tensionamento que suas declarações provocaram na já conflituosa relação do governo federal com o Poder Judiciário. O ex-ministro acabou assumindo o posto de diretor representante do Brasil no Banco Mundial, em Washington, a capital norte-americana.

Antes de definir o pastor Milton Ribeiro como sucessor de Weintraub, Bolsonaro chegou a nomear o professor Carlos Decotelli para o MEC, mas a posse teve que ser cancelada após vir à tona a constrangedora negação do currículo do pretendente. Tanto a Universidade de Rosario, na Argentina, quanto a de Wuppertal, na Alemanha, desmentiram as titulações autoatribuídas a Decotelli, quais sejam doutor e pós-doutor, respectivamente.

Em um aceno a sua base evangélica, Bolsonaro decidiu por tornar o pastor e professor Milton Ribeiro ministro da Educação. Teólogo, advogado e ex-reitor da Universidade Mackenzie, Ribeiro assumiu a pasta em julho do ano passado e tem o mérito de ser o mais longevo dos chefes do MEC no atual governo. Já são um ano e quatro meses de gestão.

Em vez do foco no avanço do nível de aprendizagem dos alunos na educação infantil e nos ensinos básico e fundamental, especialistas em educação e profissionais da área vêm criticando o que consideram um desvirtuamento na política educacional do MEC.

O Enem, exame considerado essencial para aferir o nível de aprendizado dos alunos que estão terminando o ensino médio, tornou-se uma das principais portas de entradas ao ensino superior. No entanto, a aplicação do teste vem acumulando problemas.

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O exame transferido de novembro de 2020 para janeiro deste ano por causa da pandemia também virou um caos, com alunos barrados por causa da lotação das salas, uma vez que em razão da pandemia havia de se respeitar o distanciamento com um número máximo de alunos em cada espaço. Não obstante, o índice de abstenção foi um dos mais altos da série histórica, com mais de 50% de alunos ausentes.

Todos esses fatores culminaram na troca do presidente do Inep. E o atual, Danilo Dupas Ribeiro, tem sido o causador da debandada verificada no órgão. No pedido de exoneração, os servidores alegam fragilidade técnica e administrativa da atual gestão do Inep e acusam Ribeiro de assédio moral.

Não há outro caminho a não ser que o MEC, mais do que defender doutrinas ideológicas, direcione sua atuação a promover diretrizes necessárias para fazer o país avançar em uma área tão sensível como a educação.

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