Estímulo à poupança
O anúncio da realização de estudos por parte do governo federal no sentido de estimular a poupança, através da alteração do indexador, o que tornaria o investimento mais atraente, é alentador na medida em que evidencia a intenção de se restaurar um hábito que não é apenas fundamental para o ser humano mas que representa uma considerável base no sentido de se produzir mais riqueza. A questão é tão simples que chega a surpreender que o esforço no sentido de criar uma mentalidade de poupança junto à população seja tão reduzido. Com efeito, poupar é um meio efetivo para que o cidadão estabeleça condições de enfrentar as dificuldades do futuro. Infelizmente, porém, para que haja conscientização a respeito há a necessidade do estabelecimento de algumas premissas básicas. A estabilidade da economia é, sem dúvida, fundamental. Estimular a poupança em um clima de inflação exacerbada, como a que o Brasil viveu nos anos que antecederam o Real, é uma tarefa muito difícil. Por outro lado, também é fundamental que exista um clima de confiança do povo em relação aos seus governantes, não só no que tange à própria situação econômica como no que diz respeito às regras de qualquer tipo de programa de estímulo à poupança.
Uma das idéias importantes surgidas à época do regime totalitário foi precisamente a de se estimular a poupança. Na verdade, a chamada Revolução criou com o estabelecimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – que substituiu o regime de estabilidade no emprego, vigente até então – uma fonte de poupança obrigatória. O Fundo foi formado com os 8% da folha salarial pago pelas empresas, formando uma poupança forte que, inclusive, serviu de base para os planos de construção de moradias surgidos à época. Os recursos do FGTS foram, também, muito usados em programas de saneamento, de enorme validade.
Paralelamente, o governo estimulou a poupança individual, oferecendo grandes estímulos – na forma de rendimentos – e dando uma garantia plena aos poupadores, o que era vital para o programa. Os resultados destes estímulos foram excelentes, sob todos os pontos de vista, surgindo recursos igualmente destinados a programas habitacionais ao tempo em que a população sentia uma sensação maior de segurança, com a certeza de que a poupança representava uma garantia estável para o futuro. Quando da redemocratização, houve suficiente visão para se manter as garantias dadas à poupança que florescia apesar da inflação (eventualmente, também, em razão da correção monetária que dava a impressão de ganho aos poupadores). Todavia, o curto governo Collor de Mello, entre tantos males, acabou por dar o golpe decisivo contra a poupança, ao desrespeitá-la e confiscar parte do dinheiro, produzindo um tal efeito que, nem mesmo a estabilidade da moeda e os melhores momentos de credibilidade do governo Fernando Henrique Cardoso, conseguiram restaurar a confiança da população no sistema.
Melhorar o rendimento da poupança, conforme os estudos em andamento, constitui sem dúvida um fator positivo para a recuperação deste importante princípio. É fundamental restaurar a confiança do povo, bastante abalada nos últimos anos. Há que igualmente se cuidar de oferecer uma rentabilidade que atraia o poupador, ao tempo em que se faz necessária, igualmente, uma ampla campanha no sentido de mostrar à população a importância de poupar. Finalmente, é necessário que haja estímulo ao trabalho e ao salário, uma vez que para poupar é vital que exista sobra. E, hoje, com o desemprego e o salário aviltado, são precárias as condições para que o trabalhador possa poupar.