Em maio de 2018, quando paralisaram as rodovias por 11 dias e causaram um prejuízo aos cofres públicos tão gigante quanto os congestionamentos nas estradas, a pauta dos caminhoneiros era econômica e tratava principalmente do preço do frete. Para se ter uma ideia do estrago que o movimento causou, a greve foi responsável pela queda de 1,2 ponto percentual no PIB (Produto Interno Bruto) daquele ano, causando um rombo de R$ 15,9 bilhões à economia.

Em 30 de outubro de 2022, a motivação que levou motoristas de caminhão a começarem a bloquear estradas em vários estados foi política. Os manifestantes decidiram contestar o resultado das eleições que deram a vitória à Luiz Inácio Lula da Silva fechando rodovias.

E assim, quatro anos depois, eis que reaparecem os caminhoneiros para ameaçar o país com uma nova paralisação e mais uma vez a população vê a incapacidade das autoridades em fazer prevalecer a lei frente a ousadia de fechar as estradas.

Logo pela manhã de segunda-feira (31), porta-voz da categoria, o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, disse em nota oficial que os caminhoneiros não iriam parar para protestar contra o resultado das eleições.

Então quem são os motoristas que cruzaram os braços impedindo que ônibus, carros e outros caminhões seguissem viagem em vários pontos espalhados pelo país? Os grevistas se colocam como autônomos e dizem não ter uma coordenação identificada. É preciso reconhecer, porém, que eles estão articulados o suficiente para chamar atenção para uma pauta nada democrática. Afinal, em mensagens em grupos de WhatsApp falam em golpe.

No dia 30, as urnas "falaram". E cabe a nós, enquanto sociedade, ouvi-las. O bloqueio dos caminhoneiros nas estradas, se persistir, pode atingir a retomada do crescimento econômico pós-pandemia, muito preocupante principalmente para um presidente que quer encerrar sua gestão entregando ao sucessor um país em pleno crescimento.

Em 2018, durante a greve nacional dos caminhoneiros, a FOLHA usou esse espaço de opinião do jornal para falar sobre a importância de se investir em novos modais de transporte que tornassem o Brasil independente de uma única categoria que opera o transporte de cargas, pois uma paralisação mais longa traz desabastecimento e prejuízo. A pauta continua mais atual do que nunca. Principalmente porque pode ser a primeira mostra das dificuldades que Lula terá para governar um país dividido.

Obrigado por acompanhar a FOLHA!