Um dos efeitos de longo prazo da pandemia de Covid-19 é o atraso das cirurgias eletivas em todo o país. Por conta da disseminação da doença, o sistema de saúde ficou voltado para o atendimento dos pacientes com a doença e cirurgias eletivas foram ficando para trás.

A espera por procedimentos que podem ser agendados, obviamente, é um problema antigo, mas se agravou na pandemia. Quem depende da saúde pública precisa agora conviver por mais tempo com problemas que afetam a qualidade de vida e que, em alguns casos, podem até prejudicar a recuperação pós-cirúrgica.

Essa realidade também afeta os paranaenses. Dados do Ministério da Saúde indicam que 50.426 paranaenses estão na fila por cirurgias eletivas. A boa notícia é que um pouco mais de 60% dos pacientes na espera deverão ser atendidos por conta da liberação de R$ 10,8 milhões dos recursos anunciados pelo Programa Nacional de Redução das Filas, anunciado em junho.

A Secretaria de Estado da Saúde informa que atua contra o problema por meio do Programa Opera Paraná, uma “estratégia permanente para a redução das filas”, e diz ainda que “pretende ampliar os procedimentos cirúrgicos eletivos regulares, de forma descentralizada e regionalizada”.

O investimento total, aponta o governo estadual, é de R$ 300 milhões do Tesouro do Estado, sendo que metade desse montante já está sendo utilizado para diminuir a fila de espera pelos municípios. Uma segunda etapa está prevista para os próximos meses.

Em todo o país, a fila no sistema público chega a 1 milhão de procedimentos. Com os recursos liberados, as secretarias de saúde estaduais e municipais podem realizar mais de 487 mil cirurgias, o que representa 45% de redução da fila. Entre os procedimentos mais listados estão cirurgia de catarata, retirada da vesícula biliar, cirurgia de hérnia, remoção das hemorroidas e retirada do útero.

O problema mais apontado por especialistas é o subfinaciamento do SUS. De acordo com Donizetti Giamberardino, integrante da Comissão Pró-SUS do CFM (Conselho Federal de Medicina), o país precisa reorganizar o sistema com “planejamento inteligente e racional”.

“Tem que investir nos recursos humanos de qualidade e em um plano de carreira, pois o atendimento primário não pode ser apenas um período de transição para o médico recém-formado ou para o profissional que vai se aposentar. Cerca de 80% dos problemas podem ser resolvidos nesta fase para desafogar os atendimentos de maior complexidade”, pontua, em entrevista publicada nesta edição.

Giamberardino acrescenta a importância de uma “melhor rede de integração para comunicação entre os municípios com referência e contrarreferência para que os problemas de menor complexidade sejam resolvidos nas pequenas cidades, sem necessidade de colocar os pacientes em ônibus e trazer todos para o município de grande porte”.

Portanto, a combinação entre maior investimento e melhoria da qualidade da gestão é o caminho para o Brasil reduzir o sofrimento de quem espera por um procedimento eletivo.

Obrigado por ler a FOLHA!