Do lado de cá, podemos afirmar que o ano foi atípico, exigindo ainda mais de profissionais acostumados ao desafio. Normalmente, lutamos contra o relógio no dia a dia das notícias políticas, econômicas, sociais e culturais. Mas uma pandemia , a partir de março de 2020, nos impôs um viés delicado: o de abordar a saúde pública sob impacto, condição que, seguramente, encurtou ainda mais o nosso tempo. Chegamos até aqui com um saldo de mais de 180 mil mortos, numa das estatísticas mais tristes do século, mas também houve histórias de esperança.

Olhando para trás, vimos a Redação se desmanchando e se recompondo algumas vezes. Colegas que adoeceram e se curaram, colegas que foram para casa por pertencerem a grupos de risco, mas em nenhum momento perdemos o espírito coletivo de formar uma Redação que se inscreve como uma das mais dinâmicas do Paraná, atravessando décadas com um bloco na mão e terra vermelha nos pés.

No meio de tudo, precisamos sacar, cotidianamente, um pacote mais generoso de notícias que incluíram reportagens leves sobre a nova nota de dinheiro que circula pelo Brasil. E não foi tanto pela nota, mas pela história incrível do lobo-guará que vale muito mais do que os 200 reais.

Num ano de eleições, acompanhamos cada decisão e indecisão que desenhou o rumo da política em nossa cidade e também no estado; entrevistamos personalidades nacionais sobre o meio ambiente, chamamos o líder indígena Ailton Krenak para falar de sua visão cosmogônica da cultura brasileira; festejamos o aniversário de Londrina com um ballet; noticiamos as lives deste mundo inusitado, onde nos encontramos por vídeo e usamos máscaras como num filme de ficção.

Adentramos hospitais para ver de perto os que sofreram nos leitos e os que saíram sob aplausos. Fomos aos bairros mais pobres para noticiar a agonia de quem já tinha pouco e, este ano, ficou com menos ainda. Sucederam-se atos de solidariedade, à revelia de toda notícia ruim que fomos obrigados a divulgar, muitas vezes com o coração apertado. Não conseguimos transformar totalmente a realidade, mas tratamos seus dramas com honestidade e respeito mesmo quando nos assombramos com as notícias porque somos demasiadamente humanos.

O humanismo é o tecido que envolve nossa profissão e os que trabalham em casa não deixam de se solidarizar com os que encaram todos os dias a Redação e os boletins diários, sabendo que uma doença terrível espreita a todos. Aos que foram para casa, a administração cedeu equipamentos e apoio tecnólogico, isso reduziu nossa aflição e pudemos fazer notícias, justamente quando a cidade mais precisa delas. Nós não podíamos falhar e a necessidade antecipou as etapas tecnológicas de um mundo novo.

Este balanço não é coisa que se leve à ceia de Natal, mas é coisa que fazemos intimamente reconhecendo o esforço coletivo num mundo individualizado. Sairemos desse tempo com mais vontade de viver, apesar dos mortos, e ainda que o Natal, como data marcada, não possa ser celebrado presencialmente, celebramos com nossos colegas e leitores todos os dias, quando mais uma edição se abre nas bancas e no site, como resultado de uma construção na qual cada departamento da FOLHA coloca um tijolo.

A notícia sempre será uma ponte entre a realidade e o que desejamos transformar por meio de uma profissão viva. Ela exige de nós a esperança num mundo de obstáculos como o deste ano atípico no qual escrevemos páginas de tristeza e alegria, superando o cansaço com um idealismo que ainda nos mantém de pé.

A FOLHA deseja um Feliz Natal a todos os seus colaboradores e leitores!