Como toda cidade com forte vocação universitária, a economia de Londrina sentiu a falta da movimentação dos estudantes das instituições de ensino superior nestes quase dois anos de pandemia do coronavírus. A permanência dessa população (que passou a ter aulas no modelo remoto) é essencial para alguns setores que têm um modelo de negócio voltado para os universitários que vêm morar no município para fazer uma graduação ou aqueles que buscam uma pós-graduação. Agora, esses setores vivem uma expectativa de recuperação forte em 2022.

Imagem ilustrativa da imagem EDITORIAL - A vida universitária e o movimento na economia

Nas últimas semanas, o anúncio de que estudantes e professores da UEL (Universidade Estadual de Londrina) voltarão às salas de aula no próximo dia 24 de janeiro foi o suficiente para dar um choque de confiança em muitas empresas.

O consultor da ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina) e colunista da FOLHA, Marcos Rambalducci, em entrevista ao jornal, lembrou que uma grande parcela dos estudantes de ensino superior de Londrina (entre 40 mil e 50 mil no total) deixou a cidade neste período, afetando especialmente o transporte coletivo, o setor de alimentação, a movimentação dos bares, o aluguel de chácaras para festas e o comércio local.

Enquanto a UEL funcionou apenas no modelo do ensino à distância desde o início da pandemia, as grandes universidades privadas já incorporaram atividades presenciais desde o início do ano, com as restrições que marcaram muitas atividades durante a pandemia. A última a retornar deve ser a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), com previsão de retorno dos alunos em março.

Um pesquisa feita com estudantes da UTFPR coordenada por Marcos Rambalducci, que é professor da instituição, aponta que o gasto médio anual por aluno que tem residência em outro município é de cerca de R$ 15 mil, valor 10 vezes maior que os alunos que vivem com a família na cidade.

Comerciantes que dependem da movimentação dos estudantes tiveram que se adaptar durante a pandemia. A reportagem percorreu regiões próximas aos campi e constatou a cautela que vem marcando a retomada. De acordo com funcionários destes estabelecimentos, a presença deles sempre foi assídua em bares e lanchonetes, mas que hoje se tornaram muito esporádicas. As lojas ligadas à alimentação reforçaram o mercado de delivery e hoje dão descontos para grupos de estudantes que se juntam para atividades esporádicas.

Nas imediações da UEL, alguns bairros estão com cerca de 80% de imóveis vazios, de acordo com fontes do mercado imobiliário, e outros estabelecimentos decidiram reduzir a operação e entregar parte do ponto para enxugar custos. Com o anúncio do retorno das aulas presenciais na UEL em janeiro, o mercado voltou a se animar, com o aumento da procura de imóveis de um ou dois quartos para locação.

Os efeitos da pandemia na educação afetaram o país de várias maneiras provocando um atraso já discutido em outros editoriais no ensino-aprendizagem e no aumento da desigualdade social, já que o ensino remoto não pôde chegar a todos os estudantes de maneira semelhante, pois os mais pobres tiveram muitas dificuldade em acompanhar as aulas.

Da mesma maneira o impacto econômico será duradouro e difícil de prever quando venceremos os sintomas dessa catástrofe humanitária em que centenas de milhares perderam a vida, muitos convivem com as sequelas da doença e milhões foram levados ao desemprego. Por isso, devemos comemorar cada boa notícia que nos remetam a algo próximo do antigo normal, como a volta (em segurança) dos universitários aos bancos escolares e à rotina da cidade.

Obrigado por ter você como nosso leitor!