O país com fama de acolher bem a todos falhou feio novamente e hoje a família do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, 24 anos, chora a morte do rapaz em um episódio de barbárie vergonhoso ocorrido no Rio de Janeiro, no último 24 de janeiro.

Imagem ilustrativa da imagem EDITORIAL - A vergonha e a barbárie
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A propósito, "vergonha" foi uma das palavras que a mãe de Moïse, Lotsove Lolo Lavy Ivone, usou para descrever o sentimento de indignação e dor que sentia. Em depoimento a veículos de imprensa, a mulher que deixou o Congo em 2014 com os filhos, fugindo dos horrores de uma guerra civil, afirmou: "Que vergonha! Meu filho que amava o Brasil. Por que eles mataram o meu filho? Moïse tinha todos os amigos brasileiros. Aí vêm os brasileiros e matam o meu filho".

Que vergonha, Brasil. Moïse foi espancado até a morte após pedir salários atrasados no quiosque da praia onde trabalhava como ajudante de cozinha, na turística Barra da Tijuca.

Em um vídeo gravado por uma câmera de segurança é possível ver quando dois homens se aproximam do congolês e o empurram para longe. Um deles o joga no chão e os dois começam a lutar. O segundo homem chega a segurar as pernas de Moïse. Enquanto isso, um terceiro agressor, com um pedaço de pau, começa a bater no congolês. Instantes depois, quando Moïse parece estar desacordado, com um agressor agarrado a ele no chão, um quarto homem pega o pedaço de pau e o agride.

A descrição é chocante. Assistir às imagens é mais chocante ainda. O vídeo que a Polícia Civil tem às mãos para ajudar no inquérito é prova de crueldade ao extremo. São 20 minutos de agressões, que continuaram a serem desferidas mesmo depois que o rapaz estava imóvel no chão.

É claro que as imagens provocaram a discussão sobre a necessidade ou não de divulgá-las. Infelizmente, muita gente precisará ver o que aconteceu para entender a que ponto chega o racismo, a xenofobia e o total desrespeito a imigrantes nesse país. Um homem é morto em um lugar público, com testemunhas e na frente das câmeras de segurança, provavelmente porque os assassinos acreditam na impunidade. É a desvalorização da vida em estado bruto.

Nesta quarta-feira (2), a Justiça do Rio de Janeiro determinou a prisão de três homens acusados do assassinato de Moïse. Eles foram identificados após o depoimento de testemunhas. A arma do crime, um porrete, também foi localizada jogado em um terreno baldio.

O crime repercutiu em todo o Brasil e também no exterior. Não é só a família de Moïse que clama por justiça. Manifestações que vêm de todo o país cobram que os envolvidos sejam presos e paguem pelo crime.

Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, de 2011 a 2020, 53.835 pessoas foram reconhecidas como refugiadas no Brasil, das quais 1.050 delas eram congolesas (2% do total). São pessoas que procuraram o país em busca de paz e segurança para trabalhar e criar seus filhos. O mínimo que eles esperam é acolhimento.

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