Editorial - A hora é de debate
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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000
A hora é de debate
O interesse manifestado pelo Fórum dos Usuários de Rodovias, que se realiza amanhã, em Londrina, a partir de uma proposta formulada pelo superintendente da Folha de Londrina/Folha do Paraná, José Eduardo Andrade Vieira, evidencia o interesse pela questão e pela oportunidade de um pleno debate sobre o assunto, que tem desdobramentos sobre a vida dos brasileiros. Há 70 anos, o então presidente Washington Luiz já havia cunhado a frase segundo a qual governar é construir estradas, o que, para um país de proporções continentais, é mais que natural.
A opção de Washington Luiz se tornou nacional e o Brasil foi cortado por estradas de rodagem. Muitos estudiosos até questionam historicamente esta escolha, considerando que, eventualmente, se tivesse havido uma disposição diferente, com a construção de ferrovias, o transporte poderia ser mais barato e melhor. Outras opções, igualmente, como o transporte fluvial e mesmo o marítimo (levando em conta a extensão da costa brasileira) não chegaram, ainda, a ser desenvolvidas em todo o seu potencial, de tal modo que restam mesmo as rodovias, vitais para garantir o processo de crescimento econômico que o País reclama, abrindo caminho ao trabalho dos brasileiros na distribuição de sua produção. De modo quase geral, porém, elas são deficientes, reclamando melhorias, reparos e ampliações.
Privatizar as rodovias constitui, sem dúvida, uma alternativa interessante. Cobrar pedágio é, também não se questiona, um modo correto de agir porque se trata de um tipo de pagamento feito por quem usa a rodovia. O problema, porém, é o modo como se efetivou a terceirização no Brasil, a tarifa que se cobra, o que se pode exigir de quem assume a estrada, enfim todo o esquema que cerca o assunto e que envolve, fundamentalmente, como interessado, o usuário direto e indireto. E o Fórum que se realiza em Londrina e que terá desdobramentos, com uma adequada intenção de tornar nacional a discussão do assunto, representa um avanço de grande importância, a ponto de ter recebido o apoio do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha. Busca-se com estas iniciativas finalmente ampliar o leque de discussão, como mandam as normas democráticas, algo que, aliás, deveria ter ocorrido antes mesmo do lançamento do programa, para que somente depois fosse tomada uma decisão final sobre o tema.
O importante, porém, é perceber que esta eventual inversão não prejudica o cerne da questão. Levar a participação do usuário ao centro das decisões evidencia que o despertar da consciência de cidadania atinge também este setor e leva os que decidem a aceitar esta participação, até agora aparentemente descurada, e a perceber os equívocos cometidos. A realização deste Fórum de Usuários marca, inequivocamente, uma nova e imprescindível realidade. E torna quase que obrigatória a adoção, por parte dos que estão envolvidos no assunto governo e concessionárias de uma postura mais aberta em relação ao que se está debatendo.
O que preocupa é saber que justamente neste momento, quando se prepara a realização do Fórum em Londrina e de outro importante seminário sobre o tema, dia 18, em Curitiba, surgem entendimentos para estabelecer acertos nas tarifas cobradas aos usuários paranaenses. Este seria o pior momento para que ocorresse este tipo de medida, passando até a impressão de uma atitude ditatorial em face da preocupação popular. Não é aceitável que no momento em que praticamente toda a sociedade se mostra preocupada com o assunto (que em realidade é de interesse de todos os brasileiros) sejam tomadas decisões, entre quatro paredes, que não levem em conta a preocupação coletiva a respeito do assunto. Os usuários das rodovias, que são os que pagam o pedágio, buscam canais eficazes para emitir sua opinião, e querem ser ouvidos. Seria um contra-senso acabarem literalmente atropelados por um novo aumento, justo quando já consideram que os preços atuais são extorsivos e se propõem a ajudar a encontrar saídas eficazes a todos os lados envolvidos na questão. A hora é de debate, e não de acertos espúrios.