A “guerra da vacina” e o caos da saúde pública em Manaus impactaram pesadamente na imagem do governo Jair Bolsonaro. Mesmo que o Palácio do Planalto procure se descolar do Ministério da Saúde para preservar a figura do presidente da República de notícias negativas, como a de que a pasta foi informada com antecedência da diminuição do estoque de oxigênio nas unidades de saúde de Manaus, a figura do chefe maior sempre será responsabilizada. É assim que acontece na esfera privada e assim deve acontecer na esfera pública.

As declarações defendendo o impeachment começaram a ficar frequentes nas entrevistas de políticos de oposição e nas redes sociais. Líderes de partidos centristas também entraram no discurso e o “isso não tem chance de acontecer” ganhou um ar de “veja bem”.

É óbvio que o desenvolvimento desse tema para chegar a um processo de afastamento, hoje, não parece forte o bastante. Depois da redemocratização, o Brasil foi até o final em dois processos de impeachment que mandaram para casa mais cedo os ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff. Nesses casos, ficou claro que duas situações são necessárias, o clima político favorável no Congresso e a voz nas ruas exigindo pelo impeachment.

O Congresso não parece inclinado a abrir um processo de impeachment contra o presidente Bolsonaro e as ruas, provavelmente até mesmo por conta das medidas de restrição da pandemia, continuam quietas. Certamente, o “clima” no Congresso dependerá muito de manifestações populares que pressionem até mesmo aliados do Planalto, como vimos acontecer anteriormente.

Nas próximas semanas, o desfecho pelo controle da Câmara Federal será crucial para análises futuras. Aqui, a palavra “controle” é usada de forma proposital no sentido de marcar uma contradição lógica. A Câmara não deveria ser controlada por ninguém e é um paradoxo ao fato de que o Poder Legislativo tem que ser independente e a independência da Casa não deveria precisar ser slogan de um ou outro grupo político.

O impeachment é uma ferramenta do sistema presidencialismo, mas não é frustrante perceber o quanto os presidentes brasileiros geram crises políticas, institucionais, sociais e econômicas que acabam legitimando a abertura de processos de impeachment?

A imaturidade política de nossa sociedade tem grande responsabilidade em toda essa situação. Enquanto isso não se resolve, o Brasil irá se sucedendo em crises.

É preciso melhorar os baixos níveis de informação e educação dos eleitores para que eles se vejam representados na classe política e abandonem o desinteresse pelo trabalho de seus escolhidos, contribuindo para que o país alcance um novo patamar de democracia, mais forte, madura, menos suscetível a governos populistas e à corrupção.

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