Imagem ilustrativa da imagem EDITORIAL - A crise nacional da falta de confiança
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Um dos princípios do jornalismo é gerar confiança, uma imprensa sem credibilidade, que desvirtua, violenta ou distorce os fatos, cai em descrédito. A confiança é a base de todas as relações, sejam pessoais, de trabalho ou sociais. Nada pode dar certo sem esse sentido de reciprocidade que torna as pessoas mais seguras em relação às outras, em nível micro, e que serve também para reger as relações em nível macro.

Infelizmente, o país hoje vive uma crise profunda de confiança e essa quebra começa na profusão de notícias falsas, que nem podem ser chamadas "notícias" porque distorcem fatos, permeando contatos nas redes sociais, contaminando a convivência política e humana de grupos diversos, sem que quase ninguém seja chamado à responsabilidade.

A profusão de mentiras promove ainda uma cisão no sentido geral da confiança, quando um país vê aprofundar sua crise num momento em que se nega, por exemplo, a ciência, um bem histórico que mudou o mundo e os índices de mortalidade em momentos profícuos como a do descoberta dos antibióticos. Negar a ciência, quando se nega a importância das vacinas, por exemplo, é voltar a um estado obscuro em que as pessoas se valiam de curandeirismos quando não tinham respostas e soluções para doenças graves.

Mas a crise de confiança também se estabelece quando um país passa pela prova de uma CPI que revela supostas vias obscuras onde deveria haver a luz da medicina e, por extensão, dos planos de saúde que existem para contemplar pessoas que neles depositam sua confiança e seus investimentos para vencer a doença e alcançar a longevidade.

Por isso, as suspeitas sobre as ações de uma empresa privada de saúde, alvo da CPI da Covid, nos lançam numa crise maior de desconfiança que contamina não só seus sócios, mas toda a sociedade, abrindo uma ferida onde deveria haver a reciprocidade de valores.

A ferida da desconfiança atinge não só a saúde, mas respinga na economia. Vemos entristecidos que as pesquisas indicam que 335 mil bares e restaurantes fecharam durante a pandemia em todo País, sendo 12 mil só na cidade de São Paulo. Impossível não relacionar a falta de vacinação com a anemia dos negócios. Impossível não observar que a mortalidade gerada pela Covid nos deixou mais inseguros e que, hoje, vendo as portas fechadas de muitos estabelecimentos, ficamos nos perguntando para onde rumaram esses brasileiros que perderam suas pequenas empresas pelo baque de uma epidemia sem vacinas e uma economia fragilizada que não se salvou pelo curandeirismo.

Com a carne no açougue a R$ 70 o quilo, o gás a R$ 100,00 e a gasolina a R$ 8,00 por fatores diversos, conviver com a certeza de que houve muita mentira em tempos de pandemia avassaladora, é um baque a mais, uma ferida aberta que vai além da CPI da Covid e dói ou deveria doer em muitas consciências. Apesar de tudo , precisamos restabelecer a confiança nacional. E mostrar as coisas como são, de forma clara e sem distorções, também é papel da imprensa.

Obrigada por ler a FOLHA!