Palanques abarrotados, o tradicional "beija-mão" dos empoderados, o populismo em alta, a troca da comida fina por sanduiches de rua, beijos nas criancinhas, abraços abundantes nos eleitores, entre outros afagos forçados, dissimulados e viciados na incansável busca pelo voto. Esse é o cenário que se descortina nos municípios brasileiros em tempos de pleitos eleitorais e que esvazia Brasília, porque os envolvidos, candidatos e apoiadores, precisam dar as caras ao seu eleitorado.

Esse contato direto seria o momento propício para cada eleitor instar o seu representante sobre a sua atuação no parlamento, cobrar o cumprimento das suas promessas, que invariavelmente não se concretizam e pedir explicações sobre seus posicionamentos questionáveis em aprovações polêmicas no Congresso Nacional.

Por exemplo, por que aprovaram em sessão relâmpago, na calada da noite, a absurda imposição de segredo na distribuição de verbas, através das emendas parlamentares, que contemplou uma abominável falta de transparência no trato do dinheiro público? Por que também aprovaram, na caradura, o perdão da dívida de 23 bilhões de reais dos partidos políticos? E por que estão propondo o afrouxamento da Lei da Ficha Limpa para favorecer candidaturas de políticos condenados?

Esses paradigmas de atuação estão cada vez mais presentes no trabalho dos nossos parlamentares, focando fortemente os seus próprios interesses, com o escopo de garantir a sua longevidade no poder, através de intermináveis reeleições. Um fato pitoresco, que bem exemplifica esses "interesses próprios", é que a proposta para as alterações na Lei da Ficha Limpa é de iniciativa da deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ), que é, nada mais nada menos, filha do deputado cassado Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara Federal, que pode voltar ao cenário político, se tais mudanças forem aprovadas.

Essas imoralidades engendradas dentro do Congresso Nacional, e avalizadas pela grande maioria dos parlamentares, representam um retrocesso no combate à devassidão da atividade pública e alimentam uma inesgotável fonte de corrupção. Especificamente no caso das mudanças para pior na Lei da Ficha Limpa, será um duro golpe para a nossa cidadania, pois a sua aprovação original foi a vitória de um movimento popular de 1,6 milhão de brasileiros e um marco histórico na consolidação da nossa democracia.

Em nível estadual, muitos deputados que estão participando dos pleitos municipais precisam ser cobrados pela omissão, ao não determinarem o necessário afastamento do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, quando ele próprio confessou ter cometido crime de corrupção. Uma vergonha histórica para os paranaenses.

Então, por que prestar reverências a políticos que são protagonistas ou aprovaram essas indecências? Muito pelo contrário, eles precisam ser censurados e responsabilizados pelas suas atitudes desabonadoras. Precisam, também, se sentirem fiscalizados e não idolatrados como um ser mítico.

Ludinei Picelli, administrador de empresas