No dia 12 de janeiro de 2010, o Brasil despediu-se da médica pediatra e sanitarista Zilda Arns, criadora da Pastoral da Criança, entidade que promove ações preventivas de saúde e nutrição e atividades de educação e cidadania para crianças.

Catarinense de Forquilhinha e formada em Medicina na UFPR (Universidade Federal do Paraná), dra. Zilda foi uma referência internacional no combate à desnutrição infantil. Ela foi uma das vítimas de um terremoto no Haiti, enquanto acertava detalhes para o início da atuação da Pastoral na capital, Porto Príncipe. O terremoto de magnitude 7 arrasou o país, um dos mais pobres do mundo. Deixou entre 100 mil e 200 mil mortos, dependendo da fonte de informação.

O projeto-piloto da Pastoral da Criança foi implantando por Zilda Arns em Florestópolis, município a uma hora de viagem de Londrina. A iniciativa contou com o apoio do então arcebispo de Londrina, dom Geraldo Majella Agnelo. Na época, a cidade tinha o maior índice de mortalidade infantil do Paraná, 127 mortes para cada mil nascidos vivos – índice comparado com o registrado no Nordeste brasileiro. Em um ano, o número de mortes de crianças caiu para 28 por mil. O sucesso dessa “revolução comunitária” fez com que a experiência começasse a ser difundida pelo País e pelo mundo.

A organização buscava reduzir a morte de crianças por desnutrição orientando famílias e distribuindo a "multimistura", um suplemento alimentar. À época, a Pastoral da Criança da Arquidiocese de Londrina fez um trabalho de pesagem das crianças, de incentivo ao aleitamento materno, à vacinação e ao pré-natal, além do acompanhamento da alimentação enriquecida com farinhas, cereais, fibras, sementes e casca de ovo acrescidas aos alimentos.

Desde a morte da precursora, a Pastoral da Criança praticamente dobrou o número de atendimentos no exterior. Ao todo, são 26.200 crianças atualmente acompanhadas em dez países da África, Ásia, América Latina e Caribe.

Já no Brasil, o número de voluntários da Pastoral da Criança caiu pela metade desde 2010. No ano passado, eram cerca de 137.300. O número de crianças cadastradas passou de 1,5 milhão para cerca de 830 mil.

Para o filho de Zilda, Nelson Arns Neumann, coordenador internacional da Pastoral, os números são reflexo da nova realidade do País, uma vez que as famílias atualmente têm menos filhos, e da sistematização das informações pela própria entidade. O acompanhamento dos atendimentos a cada criança é feito por aplicativo de celular.

Os desafios também estão mais complexos. Enquanto nos primeiros anos a desnutrição infantil era a principal preocupação, hoje a obesidade é um dos problemas a serem combatidos. E doenças consideradas extintas, como sarampo, por exemplo, também retornaram aos manuais de atendimento dos voluntários.