“Deus viu que tudo era bom” (Gn 1,31)
Campanha da Fraternidade nos provoca a uma mudança de atitudes, pensamentos e rumos
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 06 de março de 2025
Campanha da Fraternidade nos provoca a uma mudança de atitudes, pensamentos e rumos
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos

A Igreja Católica tem sido muito oportuna nos temas das Campanhas da Fraternidade. Há mais de sessenta anos que ela nos provoca, por altura da Quaresma, a uma mudança de atitudes, pensamentos e rumos. É uma autêntica máquina de conscientização posta em movimento pela CNBB, ano após ano: textos, CDs, cartazes, sites, blogs, etc. O povo católico tem em mãos algo bem concreto para vivenciar a mística preconizada pelo tempo quaresmal de preparação para a Páscoa (a grande festa do cristianismo).
Neste ano, um tema muitíssimo bem contextualizado dá ênfase ao abismo que nos espera se não mudarmos e apresenta caminhos alternativos que brotam da escuta da Palavra de Deus. “Fraternidade e ecologia integral”, cujo lema é o título deste artigo. Afinal, faz dez anos da primeira encíclica ecológica, a Laudato Si do Papa Francisco!
Além dos pecados individuais sobejamente conhecidos e que, por óbvio, têm um impacto social, torna-se necessário denunciar um “pecado ecológico”: o desrespeito ao Criador e sua obra que Francisco chama de Casa Comum. São ações contra Deus, contra o próximo e contra o meio ambiente. Trata-se de uma cegueira e perda de sensibilidade com o mundo ao nosso redor, tratando os seres vivos e as pessoas como objetos, esvaziando a dimensão transcendente de toda a criação, destruindo de maneira irresponsável a natureza, explorando sem limites os recursos da terra e deixando para as gerações futuras um planeta fragmentado e insustentável.
Na verdade, vivemos uma crise socioambiental que passa muito longe do que Deus sonhou para a sua obra ao criá-la! As causas são as mais variadas, mas o leitor sabe do que falo! Vivemos sob a égide e a tirania de um modelo de desenvolvimento falido e autofágico! Ele se alimenta da exploração dos patrimônios naturais, dos combustíveis fósseis, da expansão desenfreada do consumo e principalmente da relação mercantilista com a natureza.
“Crescer e dominar a terra” está longe de ser um antropocentrismo despótico, como vem sendo vivido! O mais grave: este modelo se sustenta com ideias interiorizadas na sociedade, segundo a qual, consumir é sinal de sucesso! Porém, a dissonância cognitiva que se impôs, impede de enxergar nos atuais desastres climáticos e extinção de plantas e animais (que os filhos e netos não verão mais) o abismo que nos espera! Lembro-me das palavras de Jesus: “Eles vendo, não veem, e, ouvindo, nem ouvem, nem entendem” (Mt 13,13).
Não tenhamos dúvidas, caros leitores: o uso intensivo e abusivo dos bens da natureza, compreendidos como “recursos naturais”, está levando o nosso planeta à exaustão. Não existe plano B! Não teremos outro planeta! Não estou sendo trágico e sim catastrófico, nesta abordagem!
O filósofo Bruno Latour nos diz que a emergência climática faz com que a habitabilidade do planeta seja central. Deveria se tornar a questão prioritária à qual as outras questões políticas e económicas se subordinam. São Francisco de Assis, há 800 anos, já dizia que a “terra nos sustenta e governa”; ora, se ela governa, ela define os limites e respeitá-los é urgente e indispensável.
Não cabe aos seres humanos uma autonomia absoluta em relação aos seres criados. Como também devemos deixar claro de uma vez por todas, que a propriedade privada não é um direito absoluto! Em nome desse equívoco o Brasil é campeão em mortes violentas contra defensores dos direitos humanos e direitos da natureza. Faz-se mister rever o nosso modelo atual de desenvolvimento, redescobrir a dimensão transcendente da vida, a capacidade humana de contemplação e reafirmar a dimensão profunda do repouso.
Acusam-nos de querer irracionalmente parar o progresso humano! Contudo, reduzir determinado ritmo de produção e consumo pode dar lugar a outra modalidade de progresso e desenvolvimento. O Papa Francisco aponta para uma economia casada com a ecologia integral e a sustentabilidade. Sem ganância, sem acúmulo, sem destruição. O planeta agradece e a humanidade viverá mais feliz!
Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

