A inovação é infelizmente entendida como algo somente possível para países ricos, de economia industrial desenvolvida, mais avançada, e que não está a nosso alcance (Síndrome de Vira latas?). Li nas redes sociais: “Inovação não é para o povo”! Ledo engano, que pode explicar até mesmo nosso atraso industrial. Mas podemos fazer um levantamento inicial de como a inovação está presente em nosso dia a dia (correndo o risco de ser repetitivo!) para desmistificar essa palavra e nos contrapor à afirmação acima.

Assim quando você levanta pela manhã e abre o saco de leite de plástico, está abrindo uma inovação tecnológica. Se o leite estiver em uma caixa de papelão, idem, inclusive aí com uma inovação que é a fina chapa de alumínio por dentro. Se o leite for envasado a vácuo, fazer vácuo é uma inovação tecnológica que dependeu de dezenas de outras inovações. O próprio leite com a durabilidade atual é inovação. Se comprar o leite em garrafa de vidro, saiba que o vidro é uma inovação tecnológica. Fazer a garrafa também é uma inovação. Micro ondas idem. Colocar um relógio no pulso é colocar uma inovação tecnológica no pulso que contém dezenas de outras inovações. Ligar o rádio é ligar uma inovação composta de dezenas de outras. Ligar o celular é ligar uma inovação tecnológica contendo centenas (ou milhares) de outras inovações. O mesmo com ligar uma TV. Ligar o IPAD idem. Lavar roupa usando uma máquina de lavar roupa é usar uma inovação. O fogão a gás é uma inovação. O arado é uma inovação. Ao vacinar usamos uma inovação tecnológica que hoje em dia é resultado de centenas, ou milhares, de outras inovações, inclusive a refrigeração, outra inovação tecnológica. Tirar Raio X é empregar outra inovação. Usar estetoscópio é fazer uso de outra inovação, idem Eletrocardiograma. Cada remédio é uma inovação. Usar a pílula para não engravidar é fazer uso de outra inovação. Perfume é outra inovação. A roda é uma invenção inovadora. A lança é uma inovação, arco e flecha idem. A imprensa de Gutemberg idem. Para produzir fogo, e transportar o fogo o ser humano desenvolveu inovações tecnológicas.

Inovar parece ser uma característica intrínseca ao ser humano na criação de ferramentas (inovações tecnológicas!) as mais diversas para sua sobrevivência, para o aumento de sua capacidade de intervenção na natureza, seja para o bem seja para o mal, desde seus primórdios. Na linguagem econômica, uma inovação para ser considerada como tal tem que resultar em um produto com sucesso comercial, mas esta é uma visão em meu entender que pode ser ampliada. Inovar é uma característica do ser humano desde o início de sua existência. Inovar também é fruto de inconformismo, de inquietude, com relação ao modo como as coisas são feitas e como podem ser feitas de forma melhor. Eu gosto de definir o ato de inovar como um ato de “inconformismo criativo proativo”.

Países que detém a capacidade, conhecimento, infraestrutura, regulamentação que favorece a inovação, que possuem políticas de desenvolvimento, politicas industriais, políticas de inovação, “reinam” soberanos e independentes no mundo de hoje. Países que não o fazem são dependentes. Esse é o nosso caso.

A falta de uma Política Nacional de Desenvolvimento, de uma Política de Desenvolvimento Industrial, e consequentemente uma Política Nacional de Inovação traz consequências. E podemos fazer de novo um breve levantamento de inovações que usamos em nosso cotidiano que compramos do exterior. Em um próximo texto vou usar os EUA como um exemplo, mas várias inovações são desenvolvidas e compradas de vários outros países, geralmente e principalmente de países com economia mais avançada industrialmente.

Ivan Frederico Lupiano Dias é ex-professor de Física da UEL e autor do projeto “Polo Tecnológico para Londrina baseado na área Biomédica"