O intelectual no século passado se colocava a vanguarda dos movimentos sociais, hoje deve se colocar na retaguarda dos mesmos. Exercer uma espécie de termômetro para sentir a temperatura que emerge do cotidiano organizado em suas mais diferentes manifestações. Observando e fazendo as leituras de realidade que estão, embrionariamente, sendo costuradas a todo o momento. Pois tenta estabelecer estas aproximações para que possa corresponder a uma ideia de realidade e seu desafio é o fato de sempre tentar fixar o que se move, Cândido Grzybowski afirma “Esta é a sina de quem pesquisa: fixar com maior sentido possível o que se move”. E isso é sempre complexo.

Como hoje estamos contaminados de "tecnolatria" e "mercolatria". Os indivíduos de nosso tempo facilmente e, de forma natural, se deixam levar pelas tecnologias que controlam nosso tempo e, pelo mercado que definem o sentido de vida, ou seja, esses dois aspectos associados determinam tudo no viver de um tipo de mundo imperante, sentem e vivenciam a condição humana que se juntam às redes sociais. Estas nos colocam o entretenimento e mercado como única forma de ver e sentir o mundo. Com isso negamos a cultura, o grau mais elevado de formação de nossa consciência e de nosso espírito, como algo abnegado.

Com o tempo todos nós estaremos em contato com a "imbecialidade" que nos atormenta, e os imbecis são de fácil sugestionabilidade. Ortega y Gasset enfatizava “O que diferencia os homens e os imbecis é o espírito”. Este espírito crítico pouco cultivado em nosso tempo, que nos reduz em pessoas, sem um pensar crítico de ouvir, de falar, de refletir, as formas de ser e sentir o mundo.

Isto nos conduz a uma carga egoística sem precedentes, ou também como se referia Gerd Bornheim, que somos hoje muito mais que egoístas, somos egotistas, seres reduzidos a nós mesmos, a manifestação das redes sociais, com seu self, hoje determinantes enaltecem essa sensação.

E nessa esteira que o intelectual necessita desenvolver uma capacidade da clarividência, que nada mais é senão a capacidade de ler o presente e o futuro, e visualizar o amanhã, que ainda não existe. Mas que pela forma como os construtos do pensar e olhar as realidades carregam uma preocupação muito grande. Essa capacidade precisa se traduzir de forma científica, pela leitura e pelo pensar, pela atenção no movimento das peças nesse grande tabuleiro de realidade nesta alta modernidade.

Nos movimentos sociais, pró sociedade humana justa e democrática, como vidas negras importam, preservação da natureza, direitos humanos e sociais, e hoje todas as preocupações para enfrentamento da pandemia da Covid-19 que parece não ter fim, sendo que os que mais sofrem são os desempregados, os trabalhadores informais e todas aqueles que não foram incorporados nas benesses do capital. Assim os intelectuais neles envolvidos, concentram-se na construção crítica e nas transformações desse conhecimento que está emergindo. Isso, em geral, ajuda o movimento a avançar no conhecimento e a leitura de possíveis alcances nas sociedades em transformações.

A presença dos intelectuais, que conduzidos pela capacidade filosófica ou científica está repleta de ambiguidades. Por um lado não há como concorrer com as redes sociais e a enormidade de imbecis que a conduzem, em sua maior densidade. Por outro que cada vez mais surgem poucos que se dedicam ao conhecimento produzido de forma séria, crítica e transformadora.

Assim não pode o intelectual entrar numa seara de mera informação não contemplada pela análise necessária, sendo que esta exige tempo e disciplina do pensar, mas o mundo que vivemos não espera, não aguarda e aí os espaços de vulgarização tendem a dominar falatório explicativo. A inteligência que vai além da razão moderna, deve se moldar na imaginação e na criatividade necessárias. E como elas são necessárias em nosso tempo!

Paulo Bassani é sociólogo e professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina)