Delfim Netto
PUBLICAÇÃO
domingo, 30 de janeiro de 2000
Delfim Netto
Lentidão exasperante do governo
Tenho insistido nesses meus comentários em criticar a lentidão do governo quando se trata de implementar medidas que estimulem o setor privado a aumentar a produção e ampliar a oferta de empregos. Trabalhadores e empresários perceberam nesse início de ano como demonstram inúmeras pesquisas encomendadas pelo próprio governo que existem condições para a retomada do crescimento mas, ao mesmo tempo, exasperam-se com a falta de coordenação entre as várias instâncias burocráticas que operam a política econômica no âmbito federal. Já citei um exemplo dessa descoordenação, mas é importante relembrá-lo porque o problema persiste e continua produzindo efeitos indesejáveis.
Há três programas patrocinados pelo governo federal que podem ajudar extraordinariamente a sanear as finanças das empresas, permitindo-lhes reconstruir o capital de giro e voltar a produzir e empregar: um programa na Caixa Econômica orientado para o financiamento de capital de giro às pequenas e médias empresas; um segundo programa no BNDES, com disponibilidade mais robusta de financiamento; e um terceiro, o Refis, elaborado de forma inteligente pela Receita Federal que ainda está sendo aperfeiçoado no Congresso para permitir aliviar as empresas dos problemas fiscais decorrentes das dificuldades causadas pela política econômica que vigorou até janeiro de 1999.
Esses três programas, na medida em que forem sendo implementados, ajudarão a reorganizar financeiramente as empresas que sobreviveram aos quatro anos e meio de massacre produzido pela combinação juros escorchantes + câmbio sobrevalorizado. Permitirão que elas voltem a produzir, a exportar e oferecer empregos.
Acontece que ao mesmo tempo, no mesmo governo (sic), outro braço armado da equipe econômica, o Banco Central, agindo com enorme independência, baixou medida muito rígida de controle das operações bancárias, o que até poderia ser benéfico ao sistema, mas exagerou na dose, travando o crédito para as empresas no momento em que se deseja que elas aumentem a produção.
Enquanto os setores burocráticos do governo continuarem agindo descoordenadamente, emitindo sinais contraditórios, as atividades do setor privado não retomarão um ritmo forte de crescimento.
Nesse início de ano aumentou o número de desempregados procurando colocação no mercado, o que demonstra que as pessoas estão acreditando que as empresas vão voltar a contratar. As expectativas dos empresários também são favoráveis, mas é preciso que o governo demonstre maior agilidade e coerência, tornando efetivos os programas de incentivo à produção industrial, às exportações e à agricultura.
- ANTONIO DELFIM NETTO é deputado federal pelo PPB-SP e presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara Federal
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