Já não é de hoje que a questão do crédito consciente e responsável está na agenda da maioria das instituições financeiras, dos meios de comunicações e associações de classe, por meio de campanhas mais ou menos agressivas, que buscam elevar o nível de conhecimento do brasileiro sobre o assunto.

De uma forma ou de outra, uma boa parte da população já foi exposta ao tema, cujo debate deveria trazer resultados práticos e reais. Mesmo considerando que uma mudança de hábitos pressuponha um tempo maior de adaptação e assimilação da nova proposta, o fato é que o crédito continua sendo usado pela maioria dos brasileiros de forma equivocada.

Pesquisa do Google Survey de 2019 aponta que o principal motivador do brasileiro para tomar crédito é "fechar o mês", ou seja, mais da metade dos entrevistados (52% dos 900 consumidores) disseram que buscam empréstimos para pagar despesas correntes, tal como cartão de crédito, condomínio e demais custos mensais.

Geralmente tomado de última hora, esse crédito disponibilizado e tomado em aplicativos ou sites dos bancos, é justamente o que está facilmente disponível, não necessita de qualquer avaliação mais detalhada e, cuja decisão, dá-se no impulso da necessidade premente.

Tomar crédito pressupõe planejamento, avaliação criteriosa e consciente dos riscos envolvidos e das opções existentes no mercado financeiro. As decisões impulsivas e que estão à mão dos consumidores, invariavelmente possuem prazos curtos e altas taxas de juros, que, ao invés de permitir uma análise mais criteriosa da situação econômico-financeira do cliente, agravam o problema por meses a fio, sem uma solução estrutural a longo prazo. Mas, o uso contínuo e descontrolado do crédito fácil, mês após mês, disponível nos mais tentadores e convenientes meios, denota a falta de uma análise mais criteriosa da situação econômica e nenhum planejamento financeiro.

Aparentemente, os tomadores de crédito no Brasil não analisam os riscos dos empréstimos emergenciais, como o fazem quando o crédito tem garantia de algum bem (imóvel, automóvel ou outros). Neste último, fazem uma análise mais criteriosa, procurando entender melhor os riscos envolvidos. Semelhantes cuidados deveriam ser tomados com quaisquer créditos, sejam com ou sem garantia, de curto ou longo prazo, com taxas mais altas ou mais baixas. Trata-se, na verdade, de entender a função do crédito e sua aplicação, considerando o momento de vida deste cliente e suas necessidades de capital em todo o horizonte de tempo.

Planejamento financeiro e crédito estão intrinsecamente ligados, e deveriam compor qualquer análise para a tomada de decisão. Um complementa o outro. Um depende do outro. Por isso, desconfie sempre do crédito fácil, por impulso, que está sempre a sua disposição - os perigos de descontrole da situação financeira podem ser maiores que os benefícios do crédito instantâneo!

Elyseu Mardegan Jr. é sócio-fundador e CEO da LendMe