No encalço de uma das maiores pandemias que já assolaram o mundo, um dado positivo anima os cientistas: a vacina contra o coronavírus traz também novos horizontes para o futuro dos imunizantes contra outras doenças. O responsável por isso é o RNA mensageiro, imunizante baseado numa sequência genética que protege o corpo e que era escasso no mercado até 2020.

Essa tecnologia é usada hoje nas vacinas Pfizer e Moderna, fabricadas de forma mais rápida e a um custo menor do que num passado recente, o que não significa que outras vacinas como a Coronavac e a Oxford-Astrazeneca, usadas em maior escala no Brasil, também não cumpram seu papel. O problema continua sendo que a vacinação em massa - seja qual for o imunizante - ainda está concentrada geograficamente em um número menor de países. Enquanto nos EUA, após a eleição de Joe Biden, a vacinação disparou, no Brasil a imunização ainda patina.

Hoje, no Brasil , a vacina está chegando a pessoas na faixa dos 50 anos, enquanto em países desenvolvidos pessoas até mesmo abaixo dos 18 anos já foram imunizadas. Em nosso país, além das dificuldades de acesso à vacina, há uma parcela da população que teima em não compreender que o risco é real e pode ainda levar à morte de milhares de brasileiros.

No último feriado, em São Paulo e outras capitais, mais festas clandestinas tiveram que ser fechadas pela fiscalização, coisa que se repete em cidades do interior. No país, se tivemos um número mais reduzido na média de mortes nos últimos dias, em compensação o número de casos continua alto, enquanto a fila da vacinação põe em risco até a mesmo a segunda dose de quem já tomou a primeira.

A expectativa é que com a chegada à Fiocruz, no último dia 2, de um banco de células e outro de vírus para iniciar a produção do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina contra a covid-19, o Brasil se torne autossuficiente na produção do imunizante Oxford/AstraZeneca. Mas enquanto não ingressamos nas etapas da produção e vacinação de países mais desenvolvidas continua valendo a regra de ouro: todo cuidado é pouco! Estamos ainda distantes de uma solução definitiva para a doença num país que tem de lutar não só contra o vírus, mas contra o negacionismo embutido em muitas mentalidades.

Que o progresso da ciência represente também nosso progresso enquanto sociedade depois desta dura lição.

A FOLHA deseja saúde e muitas vacinas aos seus leitores!