Desde que deixou para trás, no começo da década de 1980, a tradição isolacionista, e se tornou uma das maiores economias do mundo, a China ganhou protagonismo tal que tudo o que acontece no território do gigante asiático tem o poder de reverberar no planeta. No Brasil, grande parceiro comercial, o impacto do avanço do coronavírus já fez a Bolsa de Valores tremer.

Nesta segunda-feira, a OMS (Organização Mundial da Saúde) corrigiu a sua avaliação do risco de transmissão do coronavírus, considerando elevado para o nível internacional, após ter avaliado como risco moderado. Na China a avaliação é de alto risco.

Segundo o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ainda não se trata de uma emergência de saúde global, mas declarou que “pode vir a ser”. A entidade adotou esse tema em outras ocasiões, como para a gripe suína H1N1 em 2009, o vírus zika em 2016 e a febre ebola, que atingiu parte da África Ocidental entre 2014 e 2016 e República Democrática do Congo em 2018.

Os motivos para preocupação são muitos. No domingo (26), o ministro da Comissão Nacional de Saúde da China, Ma Xiaowei, disse que o coronavírus pode se espalhar antes que os sintomas apareçam, graças à capacidade de transmissão do vírus. As festividades do Ano Novo chinês foram canceladas e o país intensificou as restrições de transporte e viagens, proibindo também a venda de animais silvestres em mercados e restaurantes. As autoridades chinesas acreditam que o vírus tenha se originado no final do ano passado em um mercado da cidade de Wuhan que vendia ilegalmente animais silvestres.

Até a última segunda (27), 81 pessoas morreram e 2.744 foram infectadas com o vírus, um salto de cerca de 40% em comparação com o relatório de domingo (26). O prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, admitiu ter escondido informações sobre o surto de coronavírus. Segundo ele, cinco milhões de pessoas deixaram a cidade, que é o epicentro do surto, antes do isolamento, o que pode ter contribuído para a disseminação do vírus pelo país.

No âmbito econômico, analistas avaliam que o dano pode ser maior do que a epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) que matou quase 800 pessoas em 2002. Nesta segunda-feira, as bolsas de valores de todo o mundo operaram em queda.

A prioridade é a saúde. Mas em um momento em que as economias de vários países enfrentam dificuldades, é impossível não se preocupar também com as consequências comerciais de uma epidemia.

Muitos países vêm adotando medidas em fronteiras e aeroportos, com a criação de áreas para viajantes oriundos da China. No Brasil, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergência - Coronavírus, com o objetivo de preparar a rede pública de saúde para o atendimento de possíveis casos. A estrutura do centro permite a análise de dados e de informações para subsidiar a tomada de decisões dos gestores e técnicos, na definição de estratégias e de ações para o enfrentamento do problema.

Se por um lado o governo precisa adotar uma atitude proativa e se preparar para uma situação de emergência, a população também precisa se conscientizar do seu papel na prevenção. A higiene das mãos é uma grande arma, assim como a “etiqueta respiratória”. Preocupa muito a possibilidade de um país que não consegue conter uma epidemia de dengue ter que enfrentar casos de coronavírus. Estamos preparados?

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