Como vivem os que atingem cem anos?
Mansour Challita
O homem sempre receou a velhice e a morte e recorreu a artifícios para afastá-las. Nos tempos bíblicos, os reis idosos colocavam virgens e garotos na sua cama, acreditando que seu hálito traria-lhes de volta os anos da juventude. Na Grécia antiga, floresceu o mito da mágica medida que, pela transfusão do sangue, renovava o vigor e a alegria de viver. Na Idade Média, a pedra filosofal e o elixir de longa vida despertaram grandes esperanças.
Hoje, sabemos mais e procuramos a longevidade em outros caminhos. Todos os autores que estudaram este assunto afirmam que a extensão normal da vida humana gira em volta de cem anos e que a morte antes dessa idade é, na maioria das vezes, consequência de uma maneira errada de viver. Numerosos pesquisadores dedicaram-se a observar indivíduos de idade avançada e os povos cuja média de vida é superior à média mundial para tentar descobrir o segredo da longevidade.
No seu livro Nunca Mais Ficar Doente, Robert Jackson afirma que um búlgaro em cada 250 atinge a idade de cem anos, enquanto mesmo nos países mais favorecidos (Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha), existe um centenário para cada 10 mil habitantes. O segredo? Responde Jackson: a alimentação, a frugalidade.
Para descobrir o segredo da célebre longevidade da gente do Cáucaso, a escritora Sula Benet foi viver meses com eles e escreveu um livro de 250 páginas intitulado Como Tornar-se Centenário. Afirma que não existe, na base dessa longevidade, mistério algum, mas princípios simples que dizem respeito, sobretudo, à alimentação, tais como: 1. Nunca comer demais; 2. Nunca pôr comida por cima de comida; 3. Consumir muitas vitaminas (frutas, verduras e vegetais frescos); 4. Comer por pequenos bocados longamente mastigados; 5. Comer mais peixes e aves que carne; 6. Evitar misturar na mesma refeição alimentos incompatíveis entre si. (Hipócrates já dizia: ‘‘Absorvemos alimentos que fazem a guerra entre si em nosso corpo’’); 7. Rejeitar os alimentos desvitalizados como o arroz branco, o pão branco, o açúcar branco e só comer os seus congêneres integrais; 8. Comer em horários regulares e abster-se de comer entre as refeições. Nenhuma das centenárias que encontrei, relata Sula Benet, atribui sua longevidade à Providência, mas à ‘‘boa vida’’, o que significa para elas hábitos alimentares certos, ordem, atividade física, sobriedade, higiene.’
Há alguns anos, 400 médicos romanos empreenderam uma pesquisa gerontológica similar junto a 5 mil homens e mulheres de 85 anos, que viviam nas margens do Mar Negro. Verificaram que sua alimentação se compunha, principalmente, de peixes, produtos leiteiros, legumes e frutas. Muitos comiam também mel. Todos esses velhos eram sóbrios e faziam três ou quatro refeições leves por dia.
A conclusão a que se chega é que o primeiro fator numa vida longa e sadia diz respeito à alimentação – descuidada, pela grande maioria das pessoas. Não é surpreendente, – pergunta Guylord Hauses, conselheiro de estrelas de Hollywood – que nos preocupamos em assegurar a alimentação científica a nossos animais de estimação e não a nós mesmos?
O drama é que a grande maioria das pessoas comete erros na sua maneira de alimentar-se sem saber que são erros, e isso por vários motivos: 1. Na escola, ensinam-nos tudo, menos a arte de viver, que inclui a arte de conhecer o funcionamento de nosso corpo e de cuidar dele. 2. Nossos pais nasceram e cresceram nos mesmos erros e não sabem nos orientar. 3. E os médicos se preocupam mais em curar doenças do que em promover a saúde, e, aliás, não têm tempo para nos reeducar.
Quem quer aproveitar os cem anos doados pela natureza deve, portanto, fazer um esforço próprio para aprender os princípios da boa alimentação e dispensar um mínimo de vontade para aplicá-los.
Apesar de sua importância, contudo, a alimentação não é o único fato que influi na longevidade. Envelhecer é um processo complexo. No seu livro A Luta Contra o Envelhecimento, Eric Wiser diz que quatro potências governam o campo da saúde: a alimentação, a atividade física, as emoções, o sono. Hans J. Kugler, autor do livro Sete Chaves para uma Vida Mais Longa acrescenta três: a abstenção de fumar (‘‘Fumar dois maços por dia é um lento suicídio’’) o peso (cada centímetro a mais na sua cintura é uma ano a menos na sua expectativa de vida) e o fato psicológico.
A idade psicológica é tão importante quanto a idade cronológica. Devemos combater o ritmo do envelhecimento que herdamos das gerações passadas, isto é a expectativa de ficarmos velhos aos 50 anos, com a vitalidade em declínio e os sinais de decrepitude.
Na realidade, o homem permanece vigoroso e produtivo enquanto continuar a lutar, realizar, progredir, amar, usufruir a vida. E não faltam exemplos para nos animar: Goethe terminou Fausto aos 82 anos; Galileu fez seus maiores descobrimentos na velhice; Konrad Adenauer participou ativamente da política internacional até a idade de 91 anos. Quem se comporta como velho já é velho; que se comporta como jovem permanece jovem, pouco importa o número de anos. Cuidemos, pois, de nossa maneira de falar, andar, da roupa que vestimos, do carro de dirigimos, dos amigos que frequentamos.
Sim, cada um de nós pode viver uma vida plena, ativa, feliz até a idade mais avançada, consagrando apenas um mínimo de tempo para descobrir o caminho certo e um mínimo de vontade para seguir esse caminho. E pode começar essa reforma de si mesmo em qualquer idade.
- MANSOUR CHALLITTA é jornalista e escritor no Rio de Janeiro