Cláudio Humberto (De Brasília)
PUBLICAÇÃO
sábado, 26 de fevereiro de 2000
A elisão fiscal está incluída nas artes do demônio
(De Everardo Maciel sobre a malandragem de grandes empresas, que sonegam graças aos favores da Justiça e a deputados obsequiosos)
Filho de peixe
A CPI dos Medicamentos tem uma bomba na mão: a oposição descobriu que há um motivo digamos familiar na briga do ministro José Serra (Saúde) com os laboratórios representados pela Abifarma. Serra é ligadíssimo ao laboratório Teuto, que pagou a impressão de uma espécie de manual dos genéricos quando sequer existiam esses medicamentos, e ainda usou o ministro como garoto propaganda, na capa.
A conexão familiar? Luciano Serra, cuja desenvoltura na área privada vem fazendo inveja até ao tal Zuzinha, o operador de papai Mário Covas.
Sorriso Colgate
É até bem feita a publicidade da AmBev, na sua briga com a Kaiser/Coca-Cola, mas será que o presidente da empresa, Magim Rodrigues não poderia, antes, dar uma passadinha no dentista, antes de invadir os lares brasileiros com a sua agressiva propaganda na TV?
Pai extremoso
Um dos líderes da resistência pefelista para impedir a quebra do sigilo bancário dos laboratórios farmacêuticos está o seu presidente nacional, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC).
Certamente por acaso, a conta publicitária do mega-laboratório Ciba-Geigy está a cargo da agência Artplan/Prime, de propriedade de Fernanda, dileta filha do vetusto senador. Aliás, ela também tem outras contas pefelistas, como as da Previdência Social, Embratur...
O que é isso, Jáder?
O Superior Tribunal de Justiça julga nesta quinta (2) um rumoroso processo em que é réu o senador Jáder Barbalho, ex-governador do Pará e presidente nacional do PMDB. O relator é o ministro Peçanha Martins, aliás um amigo de ACM. Será que o caso vai parar também na Comissão de Ética do Senado?
Senadora factóide
São conhecidos em Alagoas os métodos da senadora Heloísa Helena (PT-AL), que acusou o senador Luiz Estevão (PMDB-DF) de ameaçá-la de morte. Ela é uma espécie de César Maia de saias.
Em 96, disputava a Prefeitura de Maceió com Kátia Born (PSB), quando, no dia da eleição, supostos pistoleiros fizeram disparos contra sua casa. Na véspera, claro, ela teve o cuidado de retirar a família.
O caso já faz parte do anedotário local. O governador Ronaldo Lessa acha que a farsa foi armada por deputados ligados ao sindicato do crime, que a apoiavam.
Em tempo: o factóide não impediu a vitória (apertada) de Born.
Perigo à vista
Caso FHC consiga emplacar o sucessor na eleição presidencial de 2002, no próximo presidente da República irá governar com maioria no tribunal mais importante do País: o Supremo Tribunal Federal. Ao todo, o sucessor de FHC fará cinco nomeações e terá ainda os três nomes que foram indicados durante as duas gestões de Fernando Henrique, liderados pelo ministro Nelson Jobim.
Covas, o antivoto
Pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação Social do Palácio dos Bandeirantes foi escondida do governador Mário Covas.
Em alguns quesitos, ele conseguiu perder para Celso Pitta. A população paulistana, por exemplo, acredita que Pitta é mais preocupado com a questão da segurança pública do que o governador. A imagem de Covas, segundo essa verdadeira bomba que explodiu no colo dos tucanos, é tão negativa que no quesito Você votaria em um candidato a prefeito indicado pelo governador Covas? a negativa chega aos 83%.
Hebe vai à luta
Hebe Camargo poderá ser a vice-prefeita na chapa de Paulo Maluf, candidatíssimo à sucessão de seu ex-protegido Celso Pitta. Malufista desde menina, Hebe seria a cara do malufismo no horário eleitoral e a avalista moral do retorno do Dr. Paulo. Não se sabe se ela vai topar.
É a chamada chapa Volkswagen, onde o motor vem atrás.
Vingança maldita
Paulo Maluf é candidato à Prefeitura de São Paulo por dois motivos: o primeiro é bater em Covas. Bater muito, sem piedade e movido pelo mais absoluto sentimento de desforra. O segundo é o de que, com sua ausência do páreo, Geraldinho Alckmin, uma mala sem alça, pode acabar se viabilizando para um segundo turno. E o terceiro, que o Doutor Paulo não diz, é o que mais atrai, sem dúvida: ele tem certeza de vitória.
Bacanal legislativo
Um alto funcionário do Senado, Murillo Porto, é acusado de sadomasoquismo; anos atrás, uma conhecida servidora da Casa foi pega na garagem do Anexo, fazendo sexo oral com um diplomata da Nicarágua; e quem se lembra do estoque de vibradores e material pornô encontrado na casa de José Carlos Alves dos Santos, aquele funcionário do Senado que trabalhava na comissão de Orçamento? A julgar pelo que fazem após o expediente, o que não farão durante?
Mau prenúncio
As viúvas da TAM, que perderam seus maridos no fatídico vôo 402 no final de 1996, e que até hoje não receberam indenização, estarão nos portões da Base Aérea de Brasília e do Palácio da Alvorada, protestando contra a viagem de FHC a Portugal em um dos jatos daquela empresa, no dia 7 de março. Num contundente manifesto distribuído em São Paulo, elas afirmam que não querem que Dona Ruth Cardoso seja a mais nova integrante de sua enlutada associação.
Túmulo do samba
A Avenida Paulista, quem diria, não é mais a mesma. Um trio elétrico patrocinado pela Liga das Escolas de Samba todo santo dia estaciona num badalado trecho, próximo ao Masp, à Fiesp e aos bancos Real, Santander e Mercantil Finasa e, durante horas, exibe em altíssimo volume os sambas-enredo do Carnaval deste ano. Executivos, banqueiros e transeuntes não aguentam mais o suplício a que estão submetidos. Vinícius de Moraes, na década de 60, carimbou a maior cidade do País com uma frase terrível: São Paulo é o túmulo do samba.
O PODER SEM PUDOR
Sem dicionário
Ramiro Pereira, antes de passar pela Assembléia Legislativa e de se tornar conselheiro do Tribunal de Contas de Alagoas, comandou durante muitos anos a política de São José da Lage. Foi vereador por sucessivas legislaturas. Numa sessão da Câmara Municipal, a discussão acalorou-se e Ramiro para o ataque frontal ao opositor que ocupava a tribuna, aparteando-o violentamente:
Vossa Excelência é um demagogo!
Perdoe a ignorância, seu Ramiro, mas o que é um demagogo?, perguntou o opositor, humildemente. Mas Ramiro não reduziu o tom:
Não sei, não, mas deve ser um cabrinha muito do safado, assim feito Vossa Excelência.